Faço contas
Ninguém consegue fugir ao tempo.
Mais logo, ao soar das 12 badaladas, como quem deita acima uma feixe de espigas, carregamos aos ombros mais um ano e para um novo abrimos os braços.
Durante o ano que hoje abandonamos, o nosso coração caminhou muitos caminhos com intransmissíveis passos.
As alegrias pareceram-nos breves. Lentas foram as lágrimas da dor e da solidão. Pesados os medos, infinitas as lutas, distantes os sonhos, frequentes os tropeços. A dor abriu-nos caminhos de brasas no coração.
Mas pode que, quando olhemos para trás, descubramos, com espanto, que os melhores dias foram aqueles que passámos a lutar por um paraíso na terra.
Faço contas e pontualizou três lições deste ano que passou:
- a solidão não tem flor nem fruto, é estéril;
- se tu mesmo não te derrotas, ninguém poderá derrotar-te;
- se tu próprio não te tornas livre, ninguém poderá dar-te a liberdade.
"Ano novo, vida nova", dizemos por estes dias em que também fazemos propósitos. Neste novo ano que se aproxima, queria confiança em mim e nos outros, fé e lucidez e, já agora, a certeza de que o futuro está cheio de caminhos, como a espiga de grãos.
(Adaptado de MANUEL, Henrique - Mas há sinais... Prior Velho: Paulinas, 2004)