Não é fácil
"Dia Internacional da Luta contra a Droga e Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura. Seria fácil pintar de negro estes minutos. Não o vou fazer.
Conta-se que após um naufrágio, o único sobrevivente deu graças a Deus por estar vivo. Agarrado a alguns destroços manteve-se à tona e foi parar a uma pequena ilha desabitada, fora de qualquer rota de navegação.
Com dificuldade juntou os destroços que iam dando à costa, fez um pequeno abrigo que o protegesse do sol, da chuva e dos animais e, novamente, agradeceu.
Nos dias seguintes, a cada alimento que conseguia colher ou caçar, o homem agradecia.
Porém, um dia, quando voltava da sua recolha de alimentos, encontrou o seu pequeno abrigo em chamas, envolto em altas e rodopiantes nuvens de fumo. Ficou desesperado. Num choro convulso e aos gritos repetia como um disco riscado:
- Meu Deus, aconteceu o pior! Perdi tudo! Qual a razão de fazeres isso comigo?
Chorou tanto e por tão longo tempo que acabou por adormecer, exausto.
No dia seguinte, bem cedo, foi acordado pelo som de um navio que se aproximava.
- Viemos resgatá-lo - disseram.
- Mas, como souberam que eu estava aqui? - perguntou ele intrigado.
- Ora essa! Vimos os seus sinais de fumo!
Há momentos em que o céu parece desabar sobre nós e sentimos mais fundo o gume da finitude e da fadiga. Os sinais desafiam-nos a fé. Não é fácil. Mas Ele está, mesmo quando o que vemos parece ser o pior."
(MANUEL, Henrique - Mas há Sinais... Prior Velho: Paulinas, 2004)