"O símbolo do óleo"
13.04.07 | ssacramento
O povo da Bíblia vivia num espaço onde era abundante a cultura das oliveiras e daí dar muita importância ao azeite. Deste modo, o óleo, que era tirado da azeitona das oliveiras, foi enriquecido com um profundo simbolismo, sendo actualmente utilizado em 4 sacramentos: unção baptismal, unção dos doentes, unção do crisma e unção sacerdotal, para além de surgir ainda na consagração dos altares da Eucaristia.
A Bíblia refere a unção de vários tipos de pessoas: reis, sacerdotes e profetas. Então, que sentido tem a unção com azeite ou óleo? Qual o significado simbólico do óleo?
Convém salientar que o sentido da unção com óleo ou azeite foi muito variado.
Antes de mais, o óleo está ligado à prosperidade, fertilidade (Dt. 33,24) e felicidade, pois o povo hebreu quando seguia do deserto em direcção às terras férteis e cultivadas encontrava a azeitona para alimento e o azeite para a comida e curar as feridas. Por outro lado, a unção da cabeça ou outra parte do corpo com óleo estava ligada à higiene ou beleza, sendo chamado o óleo da alegria (Sl 45,8) e omitido em momentos de jejum e luto (Mt. 6,17). Além disso, indicava ainda o respeito ou tratamento aos pés do hóspede, talvez visível na unção dos pés de Jesus pela pecadora (Lc 7,36-50). Esse respeito pela pessoa está também ligado à unção do defunto (Gn 50,2) e talvez tenha sido esse o sentido da unção do corpo de Jesus pelas mulheres no sábado de Páscoa (Jo. 19,39-40).
Para curar feridas e aliviar as dores utilizava-se frequentemente a unção com óleo e os médicos de então usavam unguentos feitos a partir de azeite que, ao infiltrar-se na ferida, produzia uma sensação de bem-estar (Sl 109,18), sendo isso que fez o bom samaritano (Lc 10,34). Neste contexto, o óleo é símbolo da cura espiritual que Jesus opera interiormente, pela fé, no coração dos que acreditam na sua palavra.
Jesus também usou outros símbolos sacramentais, como a saliva, o sopro, a imposição das mãos, para referir a cura e a transformação interior da pessoa.
O povo de Israel, tal como outros povos antigos, apresentava a Deus, em oferta, animais e frutos da terra, incluindo o azeite (Lv 2,4-10), que ardia diante do santuário como oferta permanente ao Senhor. Será esta a origem do costume de acender uma lâmpada com azeite diante do Santíssimo? O azeite que alimenta as lâmpadas também é símbolo do Espírito Santo que ilumina o coração dos crentes.
No fabrico dos perfumes também entrava o azeite. A massagem ou unção com óleo do corpo dos guerreiros, atletas e dos que tinham trabalhos pesados era uma tradição muito antiga e, muitas vezes, era imbuído de essências perfumadas que penetravam na pele e davam ao organismo novo vigor e agilidade. O homem como que começava uma vida nova. Desta unção profana passou-se para a unção de tipo religioso. A unção com óleo coloca o ungido num estatuto superior, na esfera do divino.
A unção real de David foi extensiva a toda a sua dinastia. Logo, os seus descendentes eram ungidos e considerados representantes de Deus no meio do Povo. O termo "ungido", em hebraico, significa messias e em grego cristo, o que quer dizer que, Ungido, Messias e Cristo são exactamente a mesma coisa.
Para as primeiras comunidades cristãs, Jesus é o Cristo, ou seja, aquele que o Senhor ungiu para sempre, o Messias e é isso que afirmam os discípulos: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!" (Mt 16,16).
No momento da saída das águas, por ocasião do seu baptismo, Jesus é ungido pelo Espírito Santo que vem do céu (Mt. 3, 13-17), significando que terminou o tempo da unção com óleo e começou a nova era da unção do Espírito. Jesus, na sinagoga de Nazaré, apresenta-se como o Ungido, o rei-sacerdote que vem propor uma amnistia universal.
Também o cristão é o "ungido" do Espírito. No baptismo fazem-se duas unções com óleo, no peito e na fronte, que são símbolo dessa unção do Espírito que Jesus no seu baptismo de água nos indicou e com o baptismo no seu sangue nos mereceu e legou. Se o óleo penetrava através da pele para transmitir ao corpo novo vigor e nova vida, com o Baptismo do Espírito Santo essa vida nova e essa força penetram até ao íntimo do coração daquele que se deixou converter pela Palavra de Jesus.
Se cristão vem de Cristo (= Ungido), nesse caso o cristão é um ungido com o Espírito de Jesus.
O Espírito do Pentecostes, que Jesus ressucitado enviou, é a maior prova de que a Igreja é a comunidade dos ungidos pelo novo óleo (o Espírito Santo) que faz de todos nós um povo de sacerdotes, profetas e reis (1Pe 2,9).
(Adaptado do artigo de frei Herculano Alves, in Revista Bíblica, nº 246)
A Bíblia refere a unção de vários tipos de pessoas: reis, sacerdotes e profetas. Então, que sentido tem a unção com azeite ou óleo? Qual o significado simbólico do óleo?
Convém salientar que o sentido da unção com óleo ou azeite foi muito variado.
Antes de mais, o óleo está ligado à prosperidade, fertilidade (Dt. 33,24) e felicidade, pois o povo hebreu quando seguia do deserto em direcção às terras férteis e cultivadas encontrava a azeitona para alimento e o azeite para a comida e curar as feridas. Por outro lado, a unção da cabeça ou outra parte do corpo com óleo estava ligada à higiene ou beleza, sendo chamado o óleo da alegria (Sl 45,8) e omitido em momentos de jejum e luto (Mt. 6,17). Além disso, indicava ainda o respeito ou tratamento aos pés do hóspede, talvez visível na unção dos pés de Jesus pela pecadora (Lc 7,36-50). Esse respeito pela pessoa está também ligado à unção do defunto (Gn 50,2) e talvez tenha sido esse o sentido da unção do corpo de Jesus pelas mulheres no sábado de Páscoa (Jo. 19,39-40).
Para curar feridas e aliviar as dores utilizava-se frequentemente a unção com óleo e os médicos de então usavam unguentos feitos a partir de azeite que, ao infiltrar-se na ferida, produzia uma sensação de bem-estar (Sl 109,18), sendo isso que fez o bom samaritano (Lc 10,34). Neste contexto, o óleo é símbolo da cura espiritual que Jesus opera interiormente, pela fé, no coração dos que acreditam na sua palavra.
Jesus também usou outros símbolos sacramentais, como a saliva, o sopro, a imposição das mãos, para referir a cura e a transformação interior da pessoa.
O povo de Israel, tal como outros povos antigos, apresentava a Deus, em oferta, animais e frutos da terra, incluindo o azeite (Lv 2,4-10), que ardia diante do santuário como oferta permanente ao Senhor. Será esta a origem do costume de acender uma lâmpada com azeite diante do Santíssimo? O azeite que alimenta as lâmpadas também é símbolo do Espírito Santo que ilumina o coração dos crentes.
No fabrico dos perfumes também entrava o azeite. A massagem ou unção com óleo do corpo dos guerreiros, atletas e dos que tinham trabalhos pesados era uma tradição muito antiga e, muitas vezes, era imbuído de essências perfumadas que penetravam na pele e davam ao organismo novo vigor e agilidade. O homem como que começava uma vida nova. Desta unção profana passou-se para a unção de tipo religioso. A unção com óleo coloca o ungido num estatuto superior, na esfera do divino.
A unção real de David foi extensiva a toda a sua dinastia. Logo, os seus descendentes eram ungidos e considerados representantes de Deus no meio do Povo. O termo "ungido", em hebraico, significa messias e em grego cristo, o que quer dizer que, Ungido, Messias e Cristo são exactamente a mesma coisa.
Para as primeiras comunidades cristãs, Jesus é o Cristo, ou seja, aquele que o Senhor ungiu para sempre, o Messias e é isso que afirmam os discípulos: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!" (Mt 16,16).
No momento da saída das águas, por ocasião do seu baptismo, Jesus é ungido pelo Espírito Santo que vem do céu (Mt. 3, 13-17), significando que terminou o tempo da unção com óleo e começou a nova era da unção do Espírito. Jesus, na sinagoga de Nazaré, apresenta-se como o Ungido, o rei-sacerdote que vem propor uma amnistia universal.
Também o cristão é o "ungido" do Espírito. No baptismo fazem-se duas unções com óleo, no peito e na fronte, que são símbolo dessa unção do Espírito que Jesus no seu baptismo de água nos indicou e com o baptismo no seu sangue nos mereceu e legou. Se o óleo penetrava através da pele para transmitir ao corpo novo vigor e nova vida, com o Baptismo do Espírito Santo essa vida nova e essa força penetram até ao íntimo do coração daquele que se deixou converter pela Palavra de Jesus.
Se cristão vem de Cristo (= Ungido), nesse caso o cristão é um ungido com o Espírito de Jesus.
O Espírito do Pentecostes, que Jesus ressucitado enviou, é a maior prova de que a Igreja é a comunidade dos ungidos pelo novo óleo (o Espírito Santo) que faz de todos nós um povo de sacerdotes, profetas e reis (1Pe 2,9).
(Adaptado do artigo de frei Herculano Alves, in Revista Bíblica, nº 246)