A Mensagem das Parábolas - II
A parábola continua actual. Se a aplicarmos às dimensões da sociedade globalizada, vemos como os povos de África, que se encontram explorados e saqueados, têm a ver de perto connosco. Vemos então como eles são o nosso «próximo»; vemos que também o nosso estilo de vida, a história de que fazemos parte, os saqueou e continua a fazê-lo. Em vez de dar-lhes Deus - o Deus que está próximo de nós em Cristo - e assim acolher das suas tradições tudo o que é precioso e grande para o levar à perfeição, levamos-lhe o cinismo de um mundo sem Deus, onde conta apenas o poder e o lucro.
Devemos - é verdade - dar ajudas materiais e examinar o nosso género de vida. Mas daremos sempre demasiado pouco, se dermos apenas matéria. E, à nossa volta, não encontramos também o homem roubado e maltratado? As vítimas da droga, do tráfico de pessoas, do turismo sexual, pessoas destruídas no seu íntimo, que estão vazias mesmo no meio da abundância de bens materiais. Tudo isto nos diz respeito e nos chama a olhar para quem está próximo e amar o outro.
Devemos, a partir do nosso íntimo, aprender de novo o risco da bondade; só seremos capazes disso, se nós mesmos nos tornarmos interiormente «bons» e se tivermos também o olhar capaz de discernir o tipo de serviço que, no meu ambiente e na área mais alargada da minha vida, me é exigido, me é possível e consequentemente também me é confiado como tarefa.
(Ratzinger, Joseph - Jesus de Nazaré. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2007; Imagem disponível em http://www.vatican.va/img_new_phome/phome_new_po_02.jpg)