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Blogue da Paróquia do Santíssimo Sacramento

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1ª Semana da Quaresma - Quarta-feira

28.02.07 | ssacramento
Professar a Fé vencendo tentações
Excerto da Catequese Quaresmal do Bispo da Guarda, realizada a 25/02/2007

1. Estamos a iniciar a Quaresma e hoje subimos o primeiro degrau nesta nossa caminhada para a Páscoa. Caminhada que nós desejamos seja para progredir na formação da nossa Fé, seja para viver a conversão e a Penitência, seja principalmente para recentrar a nossa vida em Cristo morto e ressuscitado.

Neste esforço por renovar a Fé em caminhada quaresmal, sabemos que não estamos sozinhos e por sua vez a nossa verdadeira conversão a Jesus Cristo e ao Seu Evangelho tem que dar frutos de partilha fraterna que também há-de ser renúncia em favor dos outros, principalmente os mais necessitados.

(...)

A nossa Fé enraíza numa relação pessoal forte de cada um de nós com Deus revelado em Jesus Cristo. Jesus Cristo que nós queremos confessar na sua condição divina do Senhor; Jesus Cristo que ressuscitou dos mortos como primícias da ressurreição universal e da total transformação do mundo em Reino de Deus.

Esta relação forte com Jesus Cristo na Fé conduz à salvação eterna, como diz S. Paulo, mas também e primeiro que tudo produz na nossa vida quotidiana abundantes frutos de Justiça. Isto significa que um dos critérios para avaliar a autenticidade da nossa Fé em Deus Pai e em Jesus Cristo Seu Filho, na força do Espírito, são os frutos de Justiça e caridade que existem ou não existem no nosso viver de cada dia. É esta também uma avaliação que queremos fazer de nós mesmos ao longo da Quaresma. De uma coisa estamos certos, sintonizando com o apóstolo S. Paulo: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo, o que significa que a Salvação de Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo é para todos, não havendo, por isso lugar, para qualquer acepção de pessoas na intenção e na prática do mesmo Deus.

Hoje para nós não está a ser fácil viver a Fé como para Jesus também não foi fácil cumprir a Sua Missão; Missão que o próprio Pai lhe confiou.

(...)

De facto vivemos hoje numa cultura cujas raízes são profundamente cristãs e impregnadas de muitas tradições religiosas seculares e mesmo milenares, mas que estão a ser muito abaladas. E abaladas pela introdução de novos hábitos, de novos critérios de comportamento que muitas vezes não dignificam ou mesmo não respeitam as pessoas na sua autêntica verdade. Fazer a profissão de Fé nas circunstâncias actuais implica necessariamente dar nova vida a um mundo descristianizado, afastado da prática cristã, no qual, muitas vezes, as únicas referências cristãs são de ordem cultural, sejam as procissões dos passos ou da Semana Santa, seja o amentar das almas, sejam as via-sacras públicas, sejam as festas populares dos Santos ou outras. (...)

A Quaresma (...) é tempo especialmente propício para nos perguntarmos como cristãos e como comunidades cristãs sobre as formas de tornar a mensagem cristã acessível às novas culturas, isto é aos novos modelos actuais da inteligência e da sensibilidade. A Quaresma é tempo de exame de consciência, para nos perguntarmos sobre as novas formas de fazer compreender Cristo e a Sua Mensagem ao espírito moderno, que se apresenta grandemente orgulhoso com as suas extraordinárias descobertas e realizações, mas também com sinais de profundas humilhações por não conseguir resolver os problemas fundamentais das pessoas e assim lhes não poder transmitir razões que consigam fortalecer a esperança no futuro da família humana.

Ao procurarmos viver e aprofundar a nossa fé no contexto cultural da actualidade cheio de muitas contradições como todos os dias constatamos, queremos, antes de mais, assumir com coragem as nossas responsabilidades de cidadãos e de cristãos. E entre essas responsabilidades nós vemos o necessário contributo da Fé em Jesus Cristo morto e ressuscitado para restituir a cada ser humano a sua dignidade de criatura "à imagem e semelhança de Deus", subtraindo-o, quanto possível, à tentação antropocêntrica de se considerar independente do criador. É esta sem dúvida a grande tentação do mundo actual secularizado que continua a pretender levar a sua autonomia até ao limite desumanizante de negar o próprio Deus. Este é o grande drama do nosso tempo e a verdadeira raiz da crise das culturas na actualidade.

A nossa profissão de Fé no meio de um mundo assim é também dizer às pessoas onde está a raiz do seu valor e da sua dignidade – está em serem imagem e semelhança de Deus; e que as culturas serão tanto mais humanas e humanizantes quanto mais conseguirem traduzir esta dimensão transcendente dos seres humanos.

A nossa Profissão de Fé, num mundo assim, envolve também a coragem de intervir socialmente e na opinião pública para denunciar e tentar corrigir formas de cultura que agridem sentimentos e dimensões da pessoa humana que são fundamentais. Temos que saber dizer às pessoas que elas não foram criadas à imagem da cultura ou das culturas do seu tempo, portanto não podem ser prisioneiras de modelos de comportamento humano e social que lhes estão a ser impostos por essas culturas e frequentemente em contradição com as suas aspirações mais profundas.(...)

Ao pretendermos professar a nossa Fé no palco da vida social da actualidade para serviço ao mundo e às pessoas que o habitam, temos de evitar ceder também nós a qualquer das seguintes duas tentações. Uma delas é adaptarmos o nosso comportamento aos modelos sociais e à mentalidade dominantes só para sermos modernos, actualizados, prejudicando, assim a fidelidade aos valores da Fé e a valores humanos fundamentais. A outra é pretendermos continuar agarrados às linguagens do passado sobre a Fé, querendo ignorar que a história avança e que as realidades humanas actuais que a nossa Fé tem de saber iluminar de forma significativa são diferentes das do passado. Só a catequese integrada na formação permanente da Fé nos pode ajudar a superar com êxito estas duas tentações, como Cristo também soube vencer as tentações no deserto.

Guarda, 25 de Fevereiro de 2007,

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda

http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia.asp?noticiaid=43295

1ª Semana da Quaresma - Terça-feira

27.02.07 | ssacramento
"Assim a Palavra que sai da minha boca, não voltará para mim sem resultado e sem ter cumprido a sua missão." (Isaías 55,11)

"No ruído impressionante do mundo e dos acontecimentos, a Palavra de Deus actua sem ruído e sem efeitos especiais, ignorando as frases feitas e os formulários. Palavra discreta, deixa-se ouvir no silêncio e compreender nos sinais dos tempos por aqueles que vivem longe das vaidades do mundo.

Jesus é esta Palavra de Deus: Palavra de cura e Palavra de benção, Palavra de ternura e Palavra de sabedoria, Palavra de louvor e Palavra de coragem.

Vinda de Deus, não voltará para ele sem ter permanecido por muito tempo e crescido no meio dos homens."


(ARNOLD, François - Caminhos de Páscoa. Porto: Edições Salesianas, 1993)

1ª Semana da Quaresma - Segunda-feira

26.02.07 | ssacramento
"Quando é que nós te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber?"(Mateus 25,37)

Esta era uma das questões que nos surgia no Evangelho de hoje: Quando é que te vimos?

Não temos desculpas. Se os lamentos, os gritos, apelos ou os silêncios dos nossos irmãos e irmãs não são suficientes para nos acordarem, estas palavras tantas vezes escutadas, "O que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes" deveriam acordar-nos. Aqui está um dos textos essenciais do Evangelho. Responde a todas as especulações e esforços por procurar Deus. Estas palavras são verdadeiramente desconcertantes.

Nós, muitas vezes, preferimos procurar o Senhor no meio dos nossos cânticos e das nossas orações. É mais cómodo!

Alguns, porém, já tiveram a coragem de fazer a passagem. Esses são os verdadeiros míticos. Tomaram a sério a Palavra de Deus.

"Foi a Mim"! Nada de desculpas! É a obrigação de passarmos à acção. Nesta caminhada quaresmal é altura de pôr em prática esta Palavra de Jesus: "Foi a Mim".


(adaptado de ARNOLD, François - Caminhos de Páscoa. Porto: Edições Salesianas, 1993)

Domingo I da Quaresma

25.02.07 | ssacramento
Fazei isto em Memória de Mim!

Homília do Administrador Apostólico, D. João Miranda Teixeira, na Celebração Eucarística de Abertura das Quarenta Horas na Paróquia do Santíssimo Sacramento, Porto (18/02/2007)

Na sua Mensagem para a Quaresma de 2007, Bento XVI convida os cristãos a contemplarem o rosto de Cristo crucificado: Hão-de olhar para Aquele que trespassaram (João 19,37). E diz que é no mistério da cruz que se revela plenamente o poder da misericórdia de Deus.

Convida-nos, depois, a viver a Quaresma como um tempo “eucarístico”, ou seja, acolhendo o amor de Jesus e aprendendo a difundi-lo à nossa volta com gestos e palavras.

Há aqui um desafio importante: contemplar o mistério da CRUZ, como experiência renovada do Amor de Deus e como fonte de renovado amor fraterno; e viver a Quaresma como um tempo eucarístico, porque a Eucaristia nos atrai para a oferta de Jesus ao Pai e nos convida a ser hóstias de oblação a Deus e em favor dos irmãos.

A Eucaristia é o mistério, a memória e a presença real desse acontecimento de fé que foi a Paixão, morte e Ressurreição de Jesus, que deve encher as nossas almas de alegria, reconhecimento e acção de graças.

Iniciando hoje as Quarenta Horas, como de costume, nesta Igreja do Santíssimo Sacramento, teremos todos ocasião para demoradamente contemplar Aquele que trespassaram, morreu e ressuscitou e agora permanece vivo mas escondido sob as espécies do Pão consagrado.

Do lado aberto de Jesus trespassado brotaram sangue e água, como nos diz S. João. Os Padres da Igreja consideraram estes elementos como símbolos dos sacramentos do Baptismo e da Eucaristia, graças à acção do Espírito Santo (ibidem).

A Palavra de Deus desta celebração vem exactamente no sentido do MEMORIAL do Antigo Testamento e da MEMÓRIA que é a Eucaristia:

Recorda-te do caminho que o Senhor Deus te fez percorrer, recorda-te das tribulações que te fez passar; mas recorda-te também do MANÁ que te deu a comer e da ÁGUA que fez brotar da rocha, para te dar de beber…

Trata-se da MEMÓRIA que é preciso reter da história do passado e, em primeiro lugar, de um passado de salvação bem entendido pelo autor do Livro do Deuteronómio que reescreveu a História do Povo de Deus, à luz da fé.

Esta memória era todos os anos solenemente celebrada pelos Hebreus, na Páscoa: era a “memória” da libertação e peregrinação no deserto, onde passaram fome, sede, ardores do sol e privações, até chegarem à Terra prometida. Era também a “memória” da Aliança do monte Sinai entre Deus e o seu povo, por intermédio de Moisés.

Esta memória foi celebrada por Jesus, em Quinta-Feira Santa, na sala do Cenáculo, em Jerusalém. Mas deu-lhe um significado totalmente outro, pois fez dessa celebração judaica a Páscoa da Nova Aliança. Assim cumpriu a promessa que tinha anunciado no seu discurso do Pão da Vida, que hoje voltamos a ouvir ler no evangelho:

Eu sou o Pão da Vida. Vossos pais, no deserto, comeram o Maná e morreram. Mas aquele que comer o Pão que Eu lhe der viverá eternamente. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia.

O maná do deserto é sinal de outro Pão. O pão e o vinho, consagrados por Jesus em quinta-feira santa, são a EUCARISTIA dada à Igreja com esta recomendação: Fazei isto em memória de Mim.

A Eucaristia é uma memória viva de Cristo morto e ressuscitado. É uma PRESENÇA real que guardamos no Tabernáculo das Igrejas e precisa de ser visitada, não por causa de Cristo, mas por nossa causa. É uma Presença real e não apenas simbólica, que transportamos nas procissões e veneramos em muitas formas de piedade eucarística.

As forças laicas, em França, já eliminaram o velho feriado do Pentecostes. Entre nós, há tentativas para fazer sair os símbolos cristãos, e nomeadamente a cruz, dos espaços públicos. Não queremos impor o Evangelho e a nossa fé a ninguém, mas, tendo em conta a longa tradição cristã do nosso povo e baseados na lei da liberdade religiosa, estamos no pleno direito de manifestar a nossa fé e anunciá-la por palavras e mesmo com acções públicas de procissão e adoração solene do SS. Sacramento

Mas temos de fazer mais: é preciso insistir numa renovada catequese das crianças, dos jovens e dos adultos, sobre a liturgia eucarística e o significado de cada gesto, sobre os fundamentos da fé cristã, progressivamente posta em causa por uma sociedade não apenas laica, mas “laicista”.

As crianças vão-se desafectando da Missa. Os jovens têm cada vez menos tempo útil, nas manhãs de domingo para a presença na eucaristia. E muitos adultos não acompanham os filhos no crescimento espiritual e na experiência de fé. Depois, é claro que eles se desencaminham por outras veredas perigosas…

A Eucaristia é um TESOURO da Igreja. Precisamos de redescobrir esse tesouro. O homem do evangelho encontrou um tesouro num campo, foi e vendeu tudo o que tinha para o comprar.

Nas linguagens humanas, os tesouros são para esconder no escaninho da caixa ou no banco; na linguagem do Evangelho, o tesouro do Reino de Deus e o tesouro da Eucaristia são para descobrir, apreciar, venerar e repartir pela multidão.

A eucaristia é o mistério da fé: nunca o entenderemos completamente. Os olhos do corpo vêem uma coisa mas lá está outra por debaixo das aparências. Os olhos físicos vêem pão e vinho mas os olhos da fé descobrem uma PRESENÇA real de Cristo ressuscitado.

O cálice que abençoamos é comunhão do Sangue de Cristo e o pão que partimos é comunhão do Corpo de Cristo – diz S. Paulo.

A eucaristia foi-nos dada numa ceia, em forma de alimento. A ceia é o lugar de convívio dos humanos. O pão e o vinho são os alimentos essenciais da vida humana. E são imprescindíveis para o sustento da vida corporal. Também a eucaristia é imprescindível para o sustento da vida espiritual dos baptizados e para fomento da fraternidade e da unidade entre os cristãos.

A eucaristia é o pão partido ou “Fracção do Pão”, como foi chamada nos primeiros tempos, a significar que da dispersão se há-de construir a unidade do corpo místico de Cristo. Num velho livro do século primeiro, há uma bela oração de uma liturgia eucarística que diz assim:

Pai nosso…, assim como este pão partido, antes semeado sobre colinas, uma vez recolhido se tornou um, assim a tua Igreja seja reunida das extremidades da terra no teu Reino (Didaché IX, 3-4))

A eucaristia é “pão partido” e depois distribuído à multidão, tal como aconteceu na multiplicação dos pães realizada por Jesus.

S. Paulo fala do pão que nós partimos. Os discípulos de Emaús reconheceram o Senhor no partir do pão. E os primeiros cristãos, diz S. Lucas, permaneceram assíduos à fracção do pão. O pão é primeiro semeado, colhido em grãos, amassado, cozido no forno e, depois, feito um só, é distribuído em alimento.

O que pedimos na oração eucarística é que este pão consagrado faça de nós um só, na variedade dos membros do Corpo de Cristo que é a Igreja. Foi por essa unidade que Cristo rezou na sua Oração Sacerdotal feita na última Ceia.

É difícil a unidade, é difícil a comunhão fraterna, é difícil o amor do próximo, sobretudo quando se trata de pessoas com quem não simpatizamos ou que nos hostilizam. Mas é possível. E é possível graças ao milagre do pão que Cristo nos dá, que é fonte de Vida e de comunhão. Não foi o mesmo Senhor que nos disse: Amai os vossos inimigos?

Hão-de olhar para Aquele que trespassaram (João 19,37).

A promessa de Jesus realiza-se hoje, quando, expondo o SS. Sacramento, nos dispomos a fixar Aquele que esteve na cruz. Aproveitamos, por isso, este início do tempo da Quaresma como tempo propício para a contemplação e a oração mais intensa. Tentemos penetrar profundamente no mistério de Cristo que se nos entregou na cruz e se dispôs a permanecer no Pão e no Vinho consagrados, para alimento e para adoração dos seus discípulos.

Esta contemplação há-de ajudar-nos a descobrir nesta atitude de Cristo o sinal quase evidente do Amor de Deus por nós.

Mas essa descoberta é fruto não da nossa inteligência ou capacidades naturais. É fruto da graça divina que o Espírito distribui abundantemente àqueles que se dispõem a uma caminhada de fé e conversão, de oração e penitência, quem sabe se de contemplação mística. O nosso Deus está, por agora, por detrás duma nuvem:

Tentemos captar a sua presença e deixar-nos levar nos braços do AMOR… em silêncio…em oração… em contemplação!...


Porto e Igreja do Santíssimo Sacramento, 18 de Fevereiro de 2007

D. João Miranda Teixeira, Administrador Apostólico

http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia.asp?noticiaid=42963


Sábado depois das Cinzas

24.02.07 | ssacramento
Vivemos num tempo em que se aprecia e luta apaixonadamente pela liberdade. Mas, afinal, o que é ser livre? Quais são as falsas ideias de liberdade? Qual é a verdadeira liberdade? Será a autêntica liberdade sinónimo de independência de tudo e todos, sem autoridade nem responsabilidades, fazendo-se apenas o que apetece?

Somos nós que damos orientação à liberdade, usando-a para o bem e para o mal, em função de um projecto de vida. Não há verdadeira liberdade sem responsabilidade. Ser livre é optar entre viver de acordo com um ideal ou viver à deriva. Liberdade sem orientação é desnorteada e vazia. É aparência de liberdade.

E a moral cristã, será ela um fardo repressivo ou libertação para a paz e alegria?

Ao povo de Israel, Deus diz: "Eis que ponho diante de ti o bem e o mal. Escolhe o bem e viverás" (Deut. 30,15).

A narração das três tentações de Jesus (cf. Mt. 4, 1-10) mostra-nos o drama da liberdade, a escolha entre dois caminhos, duas opções distintas: a confiança em Deus e no Seu Amor ou uma vida fechada no egoísmo, orgulho, auto-suficiência.

A nossa liberdade está exposta à tentação, mas Jesus de Nazaré veio libertar-nos: "Só a verdade vos fará livres... Se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres" (Jo. 8, 31-36). Ser livre é usar a própria liberdade na verdade e amor de Cristo. Quem acolhe Jesus Cristo na fé é verdadeiramente livre. A verdadeira liberdade é tornar-se disponível para realizar o projecto de Deus, o seu projecto de Amor.

(Adaptado de PELINO, Manuel; MARTO, António - Caminho para a Vida. Catequese para o Povo de Deus 2. Lisboa: SNEC, s/d)


Para reflectir:

Quais são as amarras que ainda impedem a minha verdadeira liberdade?

Outros disseram:
"Senhor, que quereis que eu faça?" (S. Paulo, Act. 22,10)

"Caminhante, não há caminho. Faz-se caminho ao caminhar." (Santa Teresa)

"Eu queria nunca fez nada. Tentarei fez grandes coisas. Eu quero faz milagres." (P. de Ravignan)

"Eu sou a luz do mundo. Aquele que Me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida." (Jesus Cristo)

"A verdade vos libertará." (Jesus Cristo)

Sexta-feira depois das Cinzas

23.02.07 | ssacramento

“Existe o jejum e a penitência como boas resoluções: é fácil fazer tais propósitos, não custa nada falar disso. O que é difícil é a passagem à acção.

Cumprir o que se diz e viver as exigências da Fé é morrer a todo o egoísmo, levando para o quotidiano a realidade do perdão, da partilha e do amor.”

“É preciso passar à acção e não ter medo de sofrer, porque há sempre sacrifícios a fazer quando se quer viver segundo a Palavra de Deus.”

 (ARNOLD, François - Caminhos de Páscoa. Porto: Edições Salesianas, 1993)

 

Para meditar - excerto da Nota Pastoral de D. António Sousa Braga, Bispo de Angra, para a Quaresma 2007:

«Não nascemos cristãos» (Tertuliano). Vamo-nos tornando cristãos. A vida cristã é um itinerário de contínua conversão a Cristo e ao Seu Evangelho. A Igreja proporciona-nos a Quaresma, como momento favorável de conversão, de mudança de vida, configurando-nos progressivamente com Cristo, o Homem Perfeito, rosto humano de Deus-Amor.
«Ninguém jamaís viu a Deus - adverte S. João. O Filho Único, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer».(Jo 1,18). E nos ensinou que se ama Deus, amando o próximo. «Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor» (1 Jo 4, 7).
«A Quaresma deve ser para cada cristão experiência renovada do amor de Deus, que nos foi dado em Cristo, amor que todos os dias devemos, por nossa vez, "dar novamente" ao próximo, sobretudo a quem mais sofre e é necessitado».
Esta exortação do Papa Bento XVI, na Mensagem para a Quaresma de 2007 faz eco à Sua 1ª Encíclica - Deus Caritas Est - em que explica magistralmente como o amor a Deus e o amor ao próximo são inseparavéis. (...)
O caminho de aproximação a Deus, de conversão ao Deus-Amor passa pela prática do amor ao próximo. É este o sentido da Renúncia Quaresmal, que pretende ser partilha de bens com os irmãos. Trata-se de, ao longo da Quaresma, renunciar ao supérfluo e até mesmo ao necessário, para ajudar quem mais precisa, dando da nossa pobreza. (...)
Vamos viver esta Quaresma, no contexto do Programa Pastoral deste ano, que nos convida a passar da Eucaristia à Vida, da "Missa à Missão". A Eucaristia não é apenas rito celebrativo. Compromete a vida. É Missão."Para tal missão, a Eucaristia oferece, não apenas a força interior, mas também, em determinado sentido, o projecto. Na realidade, aquela é um modo de ser que passsa de Jesus para o cristão e, através do seu testemunho, tende a irradiar-se na sociedade e na cultura" (João Paulo II, Mane Nobiscum Domine, 2004, nº 25).
Quem participa na Eucaristia torna-se com Jesus e como Jesus, pão partido e repartido, ao serviço dos irmãos.
Participando na Eucaristia, somos envolvidos no amor oblativo de Jesus. «Vivamos, então a Quaresma, como tempo "eucarístico", em que, acolhendo o amor de Jesus, aprendamos a difundi-lo à nossa volta com gestos e palavras» - recomenda-nos O Papa.

+ António, Bispo de Angra

http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia.asp?noticiaid=43102

 

 

Quinta-feira depois das Cinzas

22.02.07 | ssacramento

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
O PAPA BENTO XVI
 PARA A QUARESMA DE 2007

«Hão-de olhar para Aquele
que trespassaram»
(Jo 19, 37)

Queridos irmãos e irmãs!

«Hão-de olhar para Aquele que trespassaram» (Jo 19, 37). Este é o tema bíblico que guia este ano a nossa reflexão quaresmal. A Quaresma é tempo propício para aprender a deter-se com Maria e João, o discípulo predilecto, ao lado d’Aquele que, na Cruz, cumpre pela humanidade inteira o sacrifício da sua vida (cf. Jo 19, 25). Portanto, dirijamos o nosso olhar com participação mais viva, neste tempo de penitência e de oração, para Cristo crucificado que, morrendo no Calvário, nos revelou plenamente o amor de Deus. Detive-me sobre o tema do amor na Encíclica Deus caritas est, pondo em realce as suas duas formas fundamentais: o agape  e o eros.

O amor de Deus: agape e eros

A palavra agape, muitas vezes presente no Novo Testamento, indica o amor oblativo de quem procura exclusivamente o bem do próximo; a palavra eros denota, ao contrário, o amor de quem deseja possuir o que lhe falta e anseia pela união com o amado. O amor com o qual Deus nos circunda é sem dúvida agape. De facto, pode o homem dar a Deus algo de bom que Ele já não possua? Tudo o que a criatura humana é e possui é dom divino: é portanto a criatura que tem necessidade de Deus em tudo. Mas o amor de Deus é também eros. No Antigo Testamento o Criador do universo mostra para com o povo que escolheu uma predilecção que transcende qualquer motivação humana. O profeta Oseias expressa  esta paixão divina com imagens audazes, como a do amor de um homem por uma mulher adúltera (cf. 3, 1-3); Ezequiel, por seu lado, falando do relacionamento de Deus com o povo de Israel, não receia utilizar uma linguagem fervorosa e apaixonada (cf. 16, 1-22). Estes textos bíblicos indicam que o eros faz parte do próprio coração de Deus: o Omnipotente aguarda o «sim» das suas criaturas como um jovem esposo o da sua esposa. Infelizmente desde as suas origens a humanidade, seduzida pelas mentiras do Maligno, fechou-se ao amor de Deus, na ilusão de uma impossível auto-suficiência (cf. Gn 3, 1-7). Fechando-se em si mesmo, Adão afastou-se daquela fonte de vida que é o próprio Deus, e tornou-se o primeiro daqueles «que, pelo temor da morte, estavam toda a vida sujeitos à escravidão» (Hb 2, 15). Deus, contudo, não se deu por vencido, aliás o «não» do homem foi como que o estímulo decisivo que o levou a manifestar o seu amor em toda a sua força redentora.

A Cruz revela a plenitude do amor de Deus

É no mistério da Cruz que se revela plenamente o poder incontível da misericórdia do Pai celeste. Para reconquistar o amor da sua criatura, Ele aceitou pagar um preço elevadíssimo: o sangue do seu Filho Unigénito. A morte, que para o primeiro Adão era sinal extremo de solidão e de incapacidade, transformou-se assim no acto supremo de amor e de liberdade do novo Adão. Pode-se então afirmar, com São Máximo, o Confessor, que Cristo «morreu, se assim se pode dizer, divinamente, porque morreu livremente» (Ambigua, 91, 1956). Na Cruz manifesta-se o eros de Deus por nós. Eros é de facto – como se expressa o Pseudo Dionísio – aquela «força que não permite que o amante permaneça em si mesmo, mas o estimula a unir-se ao amado» (De divinis nominibus, IV, 13: PG 3, 712). Qual «eros mais insensato» (N. Cabasilas, Vita in Cristo, 648) do que aquele que levou o Filho de Deus a unir-se a nós até ao ponto de sofrer como próprias as consequências dos nossos delitos?

«Aquele que trespassaram»        

Queridos irmãos e irmãs, olhemos para Cristo trespassado na Cruz! É Ele a revelação mais perturbadora do amor de Deus,  um amor em que eros e agape, longe de se contraporem, se iluminam reciprocamente. Na Cruz é o próprio Deus que mendiga o amor da sua criatura: Ele tem sede do amor de cada um de nós. O apóstolo Tomé reconheceu Jesus como «Senhor e Deus» quando colocou o dedo na ferida do seu lado. Não surpreende que, entre os santos, muitos tenham encontrado no Coração de Jesus a expressão mais comovedora deste mistério de amor. Poder-se-ia até dizer que a revelação do eros de Deus ao homem é, na realidade, a expressão suprema do seu agape. Na verdade, só o amor no qual se unem o dom gratuito de si e o desejo apaixonado de reciprocidade infunde um enlevo que torna leves os sacrifícios mais pesados. Jesus disse: «E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12, 32). A resposta que o Senhor deseja ardentemente de nós é antes de tudo que acolhamos o seu amor e nos deixemos atrair por Ele. Mas aceitar o seu amor não é suficiente. É preciso corresponder a este amor e comprometer-se depois a transmiti-lo aos outros: Cristo «atrai-me para si» para se unir comigo, para que eu aprenda a amar os irmãos com o seu mesmo amor.

Sangue e água

«Hão-de olhar para Aquele que trespassaram». Olhemos com confiança para o lado trespassado de Jesus, do qual brotam «sangue e água» (Jo 19, 34)! Os Padres da Igreja consideraram estes elementos como símbolos dos sacramentos do Baptismo e da Eucaristia. Com a água do Baptismo, graças à acção do Espírito Santo, abre-se para nós a intimidade do amor trinitário. No caminho quaresmal, recordando o nosso Baptismo, somos exortados a sair de nós próprios e a abrir-nos, num abandono confiante, ao abraço misericordioso do Pai (cf. São João Crisóstomo, Catechesi, 3, 14 ss.). O sangue, símbolo do amor do Bom Pastor, flui em nós especialmente no mistério eucarístico: «A Eucaristia atrai-nos para o acto oblativo de Jesus... somos envolvidos na dinâmica da sua doação» (Enc. Deus caritas est, 13). Vivamos então a Quaresma como um tempo «eucarístico», no qual, acolhendo o amor de Jesus, aprendemos a difundi-lo à nossa volta com todos os gestos e palavras. Contemplar «Aquele que trespassaram» estimular-nos-á  desta forma a abrir o coração aos outros reconhecendo as feridas provocadas à dignidade do ser humano; impulsionar-nos-á, sobretudo, a combater qualquer forma de desprezo da vida e de exploração da pessoa e a aliviar os dramas da solidão e do abandono de tantas pessoas. A Quaresma seja para cada cristão uma experiência renovada do amor de Deus que nos foi dado em Cristo, amor que todos os dias devemos, por nossa vez, «dar novamente» ao próximo, sobretudo a quem mais sofre e é necessitado. Só assim poderemos participar plenamente da alegria da Páscoa. Maria, a Mãe do Belo Amor, nos guie neste itinerário quaresmal, caminho de conversão autêntica ao amor de Cristo. Desejo a vós, queridos irmãos e irmãs, um caminho quaresmal proveitoso, enquanto com afecto envio a todos uma especial Bênção Apostólica.

 

Vaticano, 21 de Novembro de 2006.

BENEDICTUS PP. XVI

http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/lent/documents/hf_ben-xvi_mes_20061121_lent-2007_po.html

Quarta-feira de cinzas

21.02.07 | ssacramento
Começou o tempo de Quaresma! Todos os anos, os cristãos do mundo, durante 40 dias, retomam a sua caminhada para a Páscoa.

A Quaresma é o tempo de Passagem. Nesta viagem, o cristão nunca se pode instalar. Por isso, ao longo destes dias, propomos que também nos alimentemos da Palavra de Deus e meditemos em algumas mensagens que nos mostram o caminho da vida e nos ajudam a passarmos à acção.

Quarta-feira de cinzas!... Porquê receber as cinzas neste dia? Porquê receber sujidade, apenas pó?

As cinzas são símbolo dos pecados que nos cobrem, como uma velha poeira que suja a pureza do nosso baptismo. As cinzas são a marca dos caminhantes.


"Cinzas, sinal do que passa,
resíduo do que passou,
irreconhecível agora,
neste pó cinzento.
Eu também sou caminhante
não preciso de o disfarçar!
Contudo, sinto desejo de durar,
de deixar um rasto da minha passagem.
Não terei a sorte
de me erigirem uma estátua.
Mas se ao menos deixasse
um pouco de luz a iluminar os outros,
e de alegria semeada generosamente
neste mundo tão cinzento!
Deixarei marcas nos caminhos
se procurar mais amar que ser amado."

(ARNOLD, François - Caminhos de Páscoa. Porto: Edições Salesianas, 1993)


Quarta-feira de cinzas é dia de jejum e abstinência. Para saber mais sobre este assunto consulte http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia.asp?noticiaid=29461


Olhar Jesus

20.02.07 | ssacramento
"A Eucaristia, esta presença silenciosa e humilde, este modo de Deus Se esconder e Se fazer alimento, resume, duma maneira maravilhosa, a Boa Nova, o anúncio do Reino. O Reino é um Reino de pobreza, de humildade, de paz, de amor, de verdade, de graça. Tudo isso temos no Santíssimo Sacramento. Contemplar Jesus, este Pão Santo, é contemplar o Rabi de Nazaré no seu anúncio, é contemplar a realização do próprio Reino.

Olhar Jesus, olhar a Hóstia consagrada é perceber que Deus está entre nós pequenino, pobre, humilde, feito "coisa". Contemplá-Lo é aprender com Ele a arte do Reino, que é o amor. De facto, a Eucaristia é o sacramento desse amor, que Jesus pregou e que sintetiza todo o Reino.

Olhando Jesus, olhando o Santíssimo Sacramento aprendamos as grandes lições do Reino de Deus. E saibamos comprometer-nos com esse Reino, trabalhando por ele, dando do nosso melhor."


(Em PEDROSO, Dário - Louvor perene - Vinte Horas Santas. Braga: Editorial A.O.; 2007.)

Rezar no silêncio

19.02.07 | ssacramento



"Subir à montanha, deixar a planície, o stress, o barulho, a azáfama, é condição para rezar mais e melhor, rezar em silêncio, onde Deus Se comunica.


Só no silêncio orante pode haver diálogo com Deus, pode haver conversão pessoal, pode haver transfiguração. Estar (...) diante do Santíssimo Sacramento, de Jesus Eucaristia, em silêncio recolhido, rezando, falando com Ele e ouvindo-O, é a melhor maneira de sermos transfigurados. A oração séria, profunda, ajuda à abertura a Deus e à sua graça, e converte-nos, ou melhor, ajuda-nos a deixarmos Deus entrar em nós e converter-nos.


Não tenhamos medo do silêncio. Se ele é bem feito, é sempre fecundo, dá fruto de graça e de conversão.


Peçamos a Jesus Eucaristia a graça de sabermos fazer silêncio para O escutar, para entrar em comunhão com Ele, para dialogar, para entrar em intimidade com Aquele que nos ama.(...)"






(Em PEDROSO, Dário - Louvor perene - Vinte Horas Santas. Braga: Editorial A.O.; 2007.)

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