Excerto da entrevista ao novo Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, cujo ministério se inicia no próximo Domingo, e que será emitida no programa 70 x 7, da RTP2, no dia 25 de Março. A totalidade da entrevista encontra-se disponível em:
http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=44158&seccaoid=6&tipoid=4
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- O bispo tem que criar sintonias, tem que criar proximidades com aqueles que quer servir, tem que ser um deles?
D. Manuel Clemente – Julgo que ele tem, sobretudo, que reconhecer as sintonias que o próprio Espírito de Jesus Cristo sustenta na Igreja.
Numa perspectiva de fé, e até constatação na História da Igreja, do que foi acontecendo, nós reparamos que a maior oportunidade é aquela que lhe dá o Espírito de Jesus Cristo. Ou seja, a Igreja existe porque o Espírito de Jesus Cristo a cria e recria e sustenta ao longo das gerações e dos séculos, mantendo sempre viva e disponível essa proposta evangélica. Por isso eu acredito que na Igreja do Porto, como em todas as igrejas particulares, o Espírito de Jesus Cristo suscita constantemente - às vezes onde menos se detecta à primeira vista e dificilmente chega à comunicação social - mas vai suscitando iniciativas, disponibilidades, aquilo a que nós chamamos carismas, graças específicas para a construção da Igreja.
O papel do Bispo é estar muito atento a tudo aquilo que o Espírito vai suscitando, e não digo trazendo para a ribalta, mas aproveitando, integrando, chamando. Por isso o seu papel, mais do que ser uma posição de topo, é uma posição de centro (em termos evangélicos uma posição de serviço, como Jesus se apresenta quando lava os pés aos discípulos). O que requer é uma atenção constante à acção do Espírito, porque essa é a sua maior oportunidade. Ou seja, eu sei que hoje e em todos os dias em que eu estiver no Porto, o Espírito de Jesus Cristo suscitará em muito homem e muita mulher cristã desta Diocese disponibilidades, intenções, vontades, iniciativas que são fecundação do Espírito para que a Igreja no Porto realize a sua obra, que é a apresentação hoje do Evangelho de sempre.
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– Até que ponto é necessário entranhar-se na cultura do Porto, ser portista – não em termos desportivos – estar atento à realidade do Porto?
D. Manuel Clemente – Sem dúvida, eu falei da realidade que o Espírito cria. Mas essa realidade é uma realidade de criação e portanto existe com dinamismos de sociedade, culturas e mentalidades próprias em cada parte da terra, com as suas riquezas específicas. Por isso a disponibilidade tem que ser muito grande para conhecer, para ouvir.
A acção do Bispo não é uma acção solitária, é acção no centro de uma igreja. Tudo o que sejam dinamismos de participação, de partilha, de convivência, de cultura e de debate é prioritário. Aqui não pode haver, como nalgumas corridas de bicicleta, umas fugas do pelotão, porque o bispo vai no centro do pelotão. E às vezes até tem que ir atrás, como se dizia antes, no coço da procissão, empurrando. Outras vezes terá de ir à frente. Mas isso o Espírito é que suscitará e lembrará.