"O silêncio impossível"

Como não falar de Ti, como não dizer o Teu nome, como não proclamar a Tua palavra? Jeremias não se pôde calar. Dizia "não voltarei a falar", mas isso era impossível, pois um fogo consumia-lhe as entranhas. Com Isaías passou-se o mesmo. Não se pôde calar: "Por amor a Sião, não me hei-de calar, por amor de Jerusalém, não descansarei até que a sua justiça brilhe como um clarão e a sua salvação arda como uma tocha" (Is 62, 1).
Na vida de Jesus também houve momentos de silêncio impossível. Jesus mantinha-se calado, porém quando o Sumo Sacerdote o conjura em nome de Deus para que diga se é o Messias, Ele quebra o silêncio. Jesus fala: "Tu o disseste." (Mt. 26, 57-68). Aquando da entrada jubilosa em Jerusalém, os fariseus estão furiosos com os gritos de louvor a Jesus e pedem-lhe que repreenda os seus seguidores, mas Jesus responde: "Digo-vos que, se eles se calarem, as pedras gritarão." (Lc. 19, 28-40)
Para nós os crentes, frente a um silêncio tímido ou a um silêncio envergonhado há a resposta ao mandato de Jesus: "o que tiveres escutado em silêncio, ao ouvido, anunciai-o desde os terraços, dizei-o dos telhados".
Não cales. Não te cales. Que fiquem todos a saber. Di-lo com os lábios, com os olhos, com o rosto, com as mãos. Há que dizer não ao silêncio cobarde do "quem cala consente" ao silêncio envergonhado de "quem se cala como um morto".
"Chamaste-me, Senhor... elegeste-me...
Como viver sem Ti, como não falar de Ti,
Se o Teu amor me queima por dentro como o fogo?
Tu me seduziste... nomeaste-me profeta..." (Antonio Alcalde)
(Adaptado de Javier Berciano García e Grupo Herramientas Nueve - Que é... o silêncio. Lisboa: Paulinas, 2000)