Quando os autores compuseram as obras que depois fariam parte da Bíblia, não as dividiram em capítulos e em versículos. Eles deixaram simplesmente correr a pena sobre o papel, sob a inspiração do Espírito Santo, e compuseram um texto longo e contínuo.
Foram os judeus que, ao reunirem-se aos sábados nas sinagogas, começaram a dividir a Lei (os cinco primeiros livros bíblicos, o Pentateuco) e também os livros dos profetas, em secções. Assim nasceu a primeira divisão do Antigo Testamento, uma divisão de tipo litúrgico, pois era usada nas celebrações do
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culto. Como os judeus pretendiam ler toda a Lei ao longo de um ano, dividiram-na em 54 secções (tantas quantas as semanas do ano).
Os primeiros cristãos adoptaram o costume dos judeus de se reunirem semanalmente para ler os livros sagrados, acrescentando também os livros do Novo Testamento e resolveram dividir estes rolos em secções ou capítulos, para poderem ser lidos na celebração da Eucaristia. Chegaram até nós alguns manuscritos do século V, nos quais aparecem estas primeiras tentativas de divisão bíblica. Deste modo, Mateus tinha 68 capítulos, Marcos 48, Lucas 83 e João 18.
Com o decorrer dos séculos foi aumentando o interesse pela Palavra de Deus, por ler, estudar e conhecer a Bíblia com maior precisão, já não bastando as divisões litúrgicas, fazendo falta outras mais precisas. Em 1220, Stefan Langton, depois arcebispo de Canterbury (Inglaterra), enquanto desempenhava as funções de professor da Sorbonne (Paris), decidiu proceder a uma divisão em capítulos mais ou menos iguais. Quando morreu, em 1228, os editores de Paris divulgaram o seu trabalho publicando uma versão latina, a "Bíblia parisiense", sendo a primeira Bíblia da história dividida em capítulos.
À medida que o estudo da Bíblia foi ganhando precisão e minúcia, as grandes secções (capítulos) de cada livro revelaram-se insuficientes. Era preciso subdividi-los em trechos mais pequenos, com numeração própria. Uma das mais célebres tentativas foi a do dominicano italiano Santos Pagnino que, em 1528, publicou em Lyon uma Bíblia inteiramente subdividida em versículos. O editor protestante Roberto Stefano aperfeiçoou depois a divisão de Santos Pagnino, organizando e divulgando o uso de versículos em toda a Bíblia, publicando a Bíblia completa em 1555. O Papa Clemente VIII, em 1592, publicou uma nova versão da Bíblia em latim, para uso oficial da Igreja, pois o texto anterior, de tanto ser copiado à mão, tinha sido deturpado. Deste modo chegamos à actual configuração das nossas Bíblias.
Hoje conhecemos a Bíblia até nos seus mais pequenos pormenores. Sabemos que tem 1.328 capítulos, 40.030 versículos, 773.692 palavras, 3.566.480 letras. A palavra Yahveh, o nome sagrado de Deus, aparece 6.855 vezes. O salmo 117 está precisamente no meio da Bíblia. O livro foi introduzido no computador, analisado minuciosamente, contado cuidadosamente em todos os sentidos e descobriram-se as combinações e cabalas mais curiosas e inimagináveis, bem como a repetição constante de determinadas palavras ao longo de diversos livros, facto misterioso, pois quem os escreveu não sabia que acabariam por fazer parte de um volume maior.
(Adaptado de VALDÉS, Ariel Álvarez - Que sabemos da Bíblia - II. São Paulo: Paulus, 1997)