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Blogue da Paróquia do Santíssimo Sacramento

Blogue da Paróquia do Santíssimo Sacramento

Jesus, um herói superior a Moisés

22.11.07 | ssacramento
Moisés, o fundador do povo de Israel no Egipto, foi sempre visto pelos israelitas como um herói nacional, sendo a sua infância descrita como estando envolta em mistério e milagres (Ex. 2).  Ele nasce num momento dramático para o povo, atormentado pelas perseguições do faraó (Ex. 1); tal como os outros meninos hebreus, deveria morrer afogado no rio Nilo, mas a sua mãe e irmã colocaram-no num cesto de papiro, indo ter pelo rio às mãos da filha do faraó e, desta forma, escapando à morte.

Segundo lendas hebraicas (Haggadá rabínica), Moisés é anunciado em sonhos, predito por magos, a sua mãe dá-o à luz sem dores, nasce já circuncidado...

Mateus pretendeu fazer uma comparação entre Moisés, o fundador do primeiro povo de Israel, e Jesus, o fundador do novo povo:

Moisés Jesus
Anunciado por sonhos Anunciado por sonhos
Nasce em ambiente de perseguição Nasce em ambiente de perseguição
O perseguidor é o faraó O perseguidor é Herodes
Ameaçado de morte Ameaçado de morte
Morte dos meninos hebreus no Egipto Morte dos meninos de Belém
Fuga para Madian Fuga para o Egipto
Volta com o povo para a sua terra Volta para Israel
Funda o antigo Israel Funda o novo Israel

Quanto a Jesus, Mateus conhecia os desmandos do rei Herodes, o Grande, em cujo reinado o Messias veio ao mundo, pelos anos 7-6 a.C.. Herodes morreu no ano 4 a.C., depois de praticar várias atrocidades para manter o poder. Sofria de uma doença que o deixava enfurecido, chegando a matar três dos seus filhos e mulheres, bem como todos os que imaginava inimigos. A última matança foi no dia da sua própria morte, em que mandou matar os principais do seu reino no hipódromo de Jericó, com a ordem de fazer coincidir a hora da sua morte com a dele, para que toda a Judeia chorasse por ele, de boa ou má vontade. Herodes foi sepultado na fortaleza Herodion, perto de Belém, o que tornava mais fácil relacionar esse governante perseguidor com o Jesus nascido em Belém. É isto que está no fundo histórico do relato.

(Artigo de Herculano Alves, Revista Bíblica Novembro/Dezembro 2007)

Apresentação de Nossa Senhora

21.11.07 | ssacramento
A Igreja de Roma introduziu a festa da Apresentação de Maria no Templo a partir de 1371. Os Evangelhos não nos falam da sua infância, mas os escritos apócrifos relatam que quando Nossa Senhora tinha 3 anos, os seus pais, Joaquim e Ana, a apresentaram no templo, consagrando-a ao Senhor.

No dia 21 de Novembro de 1964, o papa Paulo VI consagrou o mundo ao Coração de Maria e declarou Nossa Senhora Mãe da Igreja.

"A Senhora da Apresentação vive em acto de se apresentar. Toda a sua vida foi um exercício constante para o sim total e solene, que há-de dar a Deus na Anunciação e na cruz. Maria vive em estado de apresentação, fazendo sempre a vontade de Deus, cumprindo a sua palavra. Servir é o seu ofício; Serva é o seu nome. Desde criança ficou à escuta, aberta e disponível para se dar a Deus e aos outros. (...)

Como Maria também o cristão vive em estado de apresentação, respondendo sim à vontade do Pai. Na alegria de apresentar-se ao serviço em todo o instante, enche o coração e a vida.

"Chamaste-me; Senhor, aqui estou" (1Sm 3,5). Senhora da Apresentação, apresentai-me."


(GUERRA, Paulo - Pão da Palavra II.Braga: Editorial A.O.,2002)

Jesus, o novo Moisés: a infância do herói

20.11.07 | ssacramento
Cerca de 80 d.C. Mateus escreveu um Evangelho, não apenas para transmitir factos históricos sobre Cristo e a sua doutrina, mas para falar de Jesus.

No Evangelho da Infância, Mateus apresenta alguns relatos que não são históricos, embora sejam verdadeiros. É que ele fala num género literário chamado midrache e que é semelhante a uma homilia. Uma homilia não é uma aula de história, porém, pelo  facto de não ensinar História, o que se diz na homilia não deixa de ser verdadeiro.

Mateus dirige o seu Evangelho a hebreus, que consideravam Moisés o fundador do seu povo no Egipto e que o conduziu à Terra Prometida.

Para falar de Jesus, Mateus utilizou histórias populares judaicas, de escritores que os seus ouvintes e leitores conheciam. Quando se escrevia a vida dos imperadores ou dos grandes chefes militares do reino, estes eram apresentados como heróis, sendo narradas manifestações divinas, inspirações e aparições de anjos e outros factos miraculosos. Era um modo de escrever, para salientar a grandeza daquele herói ao povo onde ele viveu e fez acções extraordinárias. Era antecipar,  para o tempo do seu nascimento e infância, a importância que o herói apenas revelou na idade adulta. A isto chama-se o maravilhoso ou divino, nas narrativas de infância.

Mateus utilizou esta técnica, pois considerava que se os grandes imperadores deste mundo mereceram uma infância cheia de intervenções divinas, com mais razão o merecia aquele que é verdadeiramente o Filho de Deus.

Os primeiros cristãos começaram a relatar o nascimento de Jesus à maneira do nascimento dos grandes heróis da sua época, mas sobretudo dos Patriarcas e de Moisés. Aliás, o Evangelho de Mateus tem uma ligação umbilical a Moisés, sobretudo no que diz respeito à Palavra. Moisés é o homem, o profeta da Palavra, e o Jesus que Mateus nos apresenta é o profeta da palavra de Deus: é aquele que vem cumprir, da maneira mais perfeita, a palavra profética revelada a Moisés, no monte Sinai.


(Artigo de Herculano Alves, Revista Bíblica Novembro/Dezembro 2007; Imagem disponível em http://pictures-of-jesus.blogspot.com)

Para reflectir

19.11.07 | ssacramento
Nós não nascemos já feitos, homem e mulher. Vamo-nos fazendo lentamente. Somos a história que se faz cada dia, com a admirável colaboração de todos através de cada um.

Podemos comparar-nos a um vasto território, a um país que vamos descobrindo, desbravando e conquistando cada dia. Ao nascer, recebemos a escritura de posse desse país maravilhoso que somos nós. E aí, nessa terra encantadora que somos, tecemos a nossa vida juntamente com aqueles que connosco vivem.

É maravilhoso viver. É fantástico necessitar dos outros para viver. A vida é dom e compromisso. A vida é o contraste, a luta, o descanso, a dança, o luto, a festa, a labuta. A vida é o riso e o choro, é o pranto e o canto que se tecem, que se robustecem.

A vida somos nós todos, tais como somos, dando-nos as mãos para que este mundo seja cada vez mais um mundo de vida, um mundo de irmãos.

(MACCARI, N. - Parabéns. Lisboa: Paulistas, 1987)

Cordeiro de Deus

18.11.07 | ssacramento
Foi João Baptista que assim chamou a Cristo: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo." Que teria visto o profeta naquele momento? Sem dúvida tinha compreendido que Jesus tinha vindo para libertar, curar, salvar, tomando sobre si o mal, disposto também a sofrer, por amor.

"Como um cordeiro foi levado ao matadouro", tinha escrito o profeta Isaías. Depois da morte e da ressurreição de Jesus, graças a essas palavras, os discípulos começaram a compreender. Um texto até então bastante obscuro lançava agora uma luz nova sobre o sucedido.

Já não era necessário matar um cordeiro para celebrar a Páscoa.

Agora que Cristo, o Cordeiro de Deus, deu a sua vida, os efeitos de uma nova Páscoa estenderam-se a todos os homens e todas as mulheres e permitem-lhes a passagem da morte para a vida, uma renovação que marca toda a existência.

Um pedido repetido três vezes, que retoma a mesma invocação com que se iniciara a celebração da Eucaristia: "Tende piedade de nós." Um pedido de paz, daquela paz que é dádiva do Ressuscitado, daquela paz que só cresce quando alguém está disposto a sacrificar-se por ela. "Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos".

(LAURITA, Roberto - Palavras, lugares e gestos da fé. Prior Velho: Paulinas, 2003)

No Seminário cresce o futuro

17.11.07 | ssacramento
"Para que existem seminários, instituições que pelo mundo fora absorvem as melhores energias e recursos económicos e pessoais das dioceses? Estas estruturas de recrutamento, discernimento e formação do clero foram instituídas a partir do Concílio de Trento, no século XVI. Até então, essa função era desempenhada pelas comunidades cristãs, pelas famílias, pelas comunidades religiosas, pelas escolas ligadas às catedrais e universidades. Com o aparecimento da reforma protestante notou-se que a sociedade tinha mudado. Do ambiente de cristandade passou-se para uma sociedade pluralista, mesmo no âmbito da fé. Era preciso encontrar uma nova resposta para a preparação dos servidores oficiais da Igreja, os ministros ordenados.

Hoje, a realidade social e eclesial continua a ser, mais que nos séculos anteriores, pluralista e até indiferente aos valores evangélicos. Por outro lado, a globalização veio mostrar-nos que há muitas partes do mundo onde a Igreja católica é uma realidade insignificante no meio de maiorias de outras Igrejas ou religiões. Continua actual o mandamento de Cristo aos apóstolos: ide por todo o mundo, ensinai o que de mim aprendestes, baptizai os que acreditarem e sabei que estou convosco até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 19-20).

Conhecer Cristo e a sua mensagem e transmiti-la a todos os que ainda a desconhecem, obriga a um tempo de preparação prolongado dos novos mensageiros do evangelho.

Na mensagem para o dia mundial das Missões de 2007, o Papa Bento XVI acentua a corresponsabilidade de todos os cristãos, comunidades e Igrejas pelo mundo inteiro. Quem se apaixonou por Jesus Cristo e ama a Igreja não pode pensar só nos membros do seu movimento, paróquia, diocese ou país, não pode cruzar os braços enquanto houver quem desconheça o Único em quem podemos ser salvos.(...)

Preparar os futuros padres para a missão, sensíveis à situação real da humanidade, com um coração grande para amar a Jesus Cristo, presente de modo preferencial nos pobres, nos doentes, nos migrantes, nos presos, nos perseguidos, nos refugiados, nos marginalizados, como explicitam as obras de misericórdia, é tarefa imprescindível dos nossos seminários, que requer uma grande dedicação dos formadores e a oração de todo o Povo de Deus. (Mensagem de D. António Vitalino, Bispo de Beja, para a Semana dos Seminários)



Aqui pode consultar o guião pastoral da Semana dos Seminários.

 

 

Cobras e pirilampos

16.11.07 | ssacramento

"Era uma vez uma cobra que, a dada altura, embirrou com um pirilampo e começou a persegui-lo. O pirilampo, que procurava apenas viver a sua vida e vivia apenas para brilhar, lá ia fugindo como podia.
Nestas lides, somavam os dias: a cobra a perseguir e o pirilampo a fugir.
Um dia, o pirilampo, exausto, decidiu parar de fugir e enfrentou a cobra:
- Posso fazer-te três perguntas?
- Três?! Não costumo abrir esse tipo de precedentes, mas uma vez que te vou comer, podes perguntar.
- Então diz-me: pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não, claro que não.
- E fiz-te algum mal?
- Que me lembre, não.
- Então não percebo, por que é que me queres comer?
- Ora essa, porque não suporto ver-te brilhar!


Num mundo sem Pai não há irmãos, mas competidores que, às vezes, são também predadores."


(MANUEL, Henrique - Mas há sinais... Prior Velho: Paulinas, 2004)

5 minutos com Deus

15.11.07 | ssacramento
"Saber calar, quando é conveniente calar, é verdadeiramente uma sabedoria; mas saber falar quando é conveniente falar, não é menos sabedoria. Falar, quando é conveniente calar, é condenar-se ao fracasso: é deitar a perder as coisas, ou talvez piorá-las. Calar, quando é prudente falar, é sinal indubitável de cobardia; é não cumprir o dever.

O silêncio é benéfico quando é mais prudente calar; é prejudicial, se surgir a obrigação de falar. A palavra é útil e produtiva quando nasce de um desejo generoso de ajudar o irmão; é contraproducente quando está envolvida em sentimentos egoístas ou em desejos de humilhação para os outros.

Silêncio e palavra, calar e falar... é preciso moderá-los e aplicá-los com prudência, com essa prudência que os converterá de vícios em virtudes."



(MILAGRO, Alfonso - Os Cinco Minutos de Deus. Cucujães: Editorial Missões, 2005)

Abrir e fechar janelas

14.11.07 | ssacramento
"Abrir e fechar janelas é um gesto tão simples e rotineiro! Eu já o repetira milhares de vezes, mecanicamente. De um dia para o outro, este gesto tomou nova importância para mim, quando o transportei para dentro do meu quotidiano.

Abro agora as janelas da vida, deixando que entrem o sol, as paisagens, o perfume dos campos, o azul do céu, o canto dos pássaros, o burburinho das ruas, as esperanças e alegrias dos meus irmãos.

Abro agora as janelas da vida e sinto no rosto e na alma a chicotada dos ventos, das tempestades, dos problemas, das angústias, das injustiças e opressões, os meus sofrimentos e os sofrimentos dos meus irmãos.

Alegrias e dores fazem parte da minha vida, do meu crescimento, dos riscos que  a gente  corre, quando se compromete com Deus. Sei agora que é belo e profundo arriscar-se para acolher o outro. E nesta experiência descubro a beleza e a infinitude de amar radicalmente, como Cristo nos ama."

(SCHNEIDER, Roque - O valor das pequenas coisas. Camarate: Edições Paulistas, 1978)

O segredo do Tiago

13.11.07 | ssacramento
"Naquela noite, o pai e a mãe ficaram perplexos quando o Tiago, em vez de dar as boas-noites, se sentou na beira da cama com cara de quem quer falar, mas sem saber como começar. A ansiedade do olhar imediatamente lhes disse que desta vez não eram assuntos banais da faculdade, dos amigos, ou do grupo de catequese, de que era responsável.
Percebendo-lhe a dificuldade, o pai encorajou-o.
- Então, que se passa filho?
- É... penso que já não quero mais seguir Direito. - Começou por dizer.
- Como? - Exclama a mãe sobressaltada -. Tiveste tão bons resultados no semestre passado!
- É verdade. mas a questão não é essa...
- Queres mudar de curso? - Continua a mãe.
 - Mais ou menos. Não sei se tenho vocação, mas há já algum tempo que sinto que devo ser outra coisa que não advogado.
Fez-se silêncio absoluto. Era difícil saber se de surpresa, susto, de alegria ou estranheza...
Os três ficaram calados, pensativos até que o pai quebrou o silêncio.
- Mas pões Direito de parte?
- Ainda não pus completamente o curso de parte, mas estou cada vez mais decidido a ser padre.
 - Como te surgiu essa ideia agora? - Volta a mãe a perguntar - Quem te influenciou para isso?
Tiago começou a explicar como tudo despertou no momento da preparação para o crisma e sobretudo quando entrou no grupo de jovens onde se vivia a fé com alegria, onde se rezava, onde se sentiu a crescer em ideal e em compromisso. Já há algum tempo que tinha falado da questão ao animador do grupo e que este, na altura, o tinha encaminhado para um padre por quem estava a ser acompanhado.
- Não te agrada casar, ter mulher e filhos, a tua casa? Ser bom cristão como marido, como pai, como profissional? - Pergunta o pai.
Sim gostava do casamento. Reconhecia valor e apreço pela vocação laical.
Simplesmente o Tiago sentia que a sua vocação consistia na disponibilidade plena e, por isso, aceitava todas as outras componentes, o celibato e essas coisas para estar livre de preocupações familiares e económicas.
Cada vez mais silenciosos, os pais interrogavam-se porque é que a vida sacerdotal atraía assim o seu filho mais velho. Parecia tão convencido do que queria. (...)
A conversa continuou ainda pela noite dentro e, nessa noite, ninguém dormiu."

Toda a vocação, só se entende internamente, a partir de Deus e a família é a igreja doméstica, onde Deus se revela e realiza o seu chamamento. É necessário e urgente entender a família como uma comunidade vocacional, onde a opção de vida de um dos seus membros implica e compromete vitalmente a todos e a cada um. Neste sentido, o sacerdócio é um dom a ser conquistado na oração, estima e amor mútuos.


(http://pastoralfamiliarporto.planetaclix.pt/Vocacao-sacerdotal.htm; imagem em http://www.ispac.it/images/granello3.jpg)