Os Atenienses chamavam às Horas Talo, Auxo e Carpo, ou seja, «as protectoras do florescimento, do crescimento, e do amadurecimento» (Lohr 20). O poeta Hesíodo refere outras três Horas: Eunomia, Dike e Eirene, a disciplina, a justiça e a paz. Ambas as interpretações mostram que as Horas estão ligadas à natureza e nela garantem o regresso regular do tempo do florescimento e do amadurecimento, como acontece com as pessoas, de quem estruturam a vida e a quem oferecem a medida certa.
Os primeiros cristãos ligavam cada hora a um mistério diferente da vida de Jesus.
As Horas são mensageiras de Deus. São, portanto, como anjos que nos recordam que todos os momentos pertencem a Deus. Os anjos são mensageiros de Deus, que nos transmitem uma mensagem importante e nos põem em contacto com o nosso verdadeiro ser. O tempo é, assim, um mensageiro de Deus que nos indica o momento em que chega verdadeiramente às nossas vidas.
O anjo do tempo recorda-nos que o nosso tempo é limitado e que, por conseguinte, devemos vivê-lo de forma consciente e cuidadosa. Convida-nos a libertar o nosso tempo, que entupimos com trabalho, e a guardar algum tempo para a oração. Alguém disse uma vez : «No momento em que libertarmos o nosso tempo, teremos todo o tempo do mundo....».
(GRÜN, Anselm - Ao ritmo do tempo dos monges. Prior Velho: Paulinas, 2006)
A palavra grega para hora é também «hora». Mas as Horas não são horas como nós as conhecemos, ou seja, um período de tempo claramente delimitado de 60 minutos. As Horas são mais «uma essência divina da mudança do tempo»(Pauly 715). Na mitologia grega, as Horas são graciosas deusas, que surgem sempre associadas a deuses, como são os casos de Afrodite e Deméter, com Dionísio e Apolo.
A «hora» é também um conceito importante no Evangelho. Nas bodas de Caná, Jesus disse a Maria: «Ainda não chegou a minha hora» (Jo 2,4). A hora de que Jesus fala recorrentemente é a hora da sua morte. Jesus é glorificado na cruz, aí resplandece nele o esplendor de Deus. Na cruz, o seu lado é trespassado, jorrando daí sangue e água - uma imagem do Espírito Santo que, na hora da morte de Jesus, é vertido sobre as pessoas. João refere-se duas vezes à hora sexta (meio-dia). Por volta do meio-dia, Jesus senta-se, cansado, na borda do poço de Sicar (cf Jo 4,6); à mesma hora Pilatos condena Jesus à morte (cf. Jo 19,14).
Jesus diferencia o seu tempo, do tempo das outras pessoas. É isso que diz aos seus irmãos que o impelem a ir a Jerusalém, para realizar os seus trabalhos e se mostrar publicamente: «Para mim ainda não chegou o momento oportuno (Kairos); mas, para vós, qualquer oportunidade é boa» (Jo 7,6). Vivem apenas superficialmente. Para eles, trata-se de aparências e êxitos. Para isso, há sempre tempo. Mas Jesus escuta o Pai, e quando o tempo dele chegar, o Pai deseja glorificá-Lo.
(GRUN, Anselm - Ao ritmo do tempo dos monges.Prior Velho: Paulinas,2006)
Poderá o homem viver sem Deus, sem o reconhecer e glorificar? Paulo responde a esta questão em Rm 1,18-32 e apesar de ser um texto escrito há muitos anos, reflecte muito do que se passa nos nossos dias.
A resposta é apresentada por Paulo na forma de resultado de um julgamento, em que o juiz é Deus e o Apóstolo o seu porta-voz. Assim, começa por apresentar a sentença e os pontos de acusação: a impiedade (por ela rejeitam Deus) e injustiça (mina as relações inter-humanas) dos homens.
A ira de Deus que aqui se fala não é como a humana, não sendo uma reacção incontrolável, mas exprimindo o seu desacordo com tudo o que contraria a sua vontade e os seus planos, o bem que tanto quer ao homem.
A fundamentação da sentença deve-se não à rejeição do conhecimento de Deus. Não se trata de saber se Deus existe, mas de o homem se ter colocado no lugar do Criador, substituindo o culto a Deus pelo de outras figuras. Esta idolatria da parte do homem tem como consequência o castigo da parte de Deus.
O uso perverso da sexualidade (v. 24) é um dos males apresentados por Paulo. Na época, estava especialmente relacionado com a idolatria, em que dominavam divindades da fecundidade, servidas por prostitutas sagradas (1Cor 6,12-20). Era a degradação do corpo e, com ele, da pessoa. Tratar sexualmente o outro como um objecto para satisfazer apetites próprios é um atentado contra a verdade de Deus, que é amor e nos faz seus colaboradores ao serviço da vida, pelo amor.A pena pelos males cometidos e pela aprovação, activa ou passiva, de quem os pratica é a morte eterna, já iniciada com o mal feito em vida.
(OLIVEIRA, Anacleto - Um ano a caminhar com S. Paulo. Palheira: Gráfica de Coimbra,2008)
A Folha Pão e Vida nº 477 já está disponível. Para além das leituras e avisos respeitantes às actividades paroquiais, também pode encontrar um artigo sobre a beatificação dos pais de Santa Teresinha do Menino Jesus e uma reflexão sobre o Evangelho deste domingo.
Neste dia Munidal das Missões, escolhemos uma reflexão da revista Mensageiro do Coração de Jesus a respeito do Evangelho deste domingo.
A César o que é de César, a Deus o que é de Deus! A questão colocada a Jesus era apenas para o "tentar", para lhe criar embaraço e levá-lo a contradizer-se. Independentemente de dizer sim ou não, a resposta parecia trazer-lhe problemas sérios. Não pagar impostos? Cuidado com as autoridades ocupantes, com o imperador de Roma! Dizer sim? E o patriotismo? E a reacção do povo? Enfim, inimigo de César ou inimigo do povo?!
Era mesmo uma ratoeira, uma tentativa de manipulação da resposta, de fazer Jesus escorregar. Há tanto disto no mundo! Tanta hipocrisia!
Jesus saiu-se bem. Respondeu, fazendo ele uma pergunta e afirmando mais do que se lhe pedia, ao apontar para o que é prioritário: Deus.
Quando o bago de uva é desfeito pela prensa que o tritura, converte-se em sumo doce e tonificante. Quando a azeitona passa pelo lagar, torna-se azeite suave e macio. Só o sofrimento nos torna capazes de compreender os outros e de ser bálsamo nas rupturas e feridas de todos.
É maravilhoso viver uma vida difícil, com a simplicidade do quotidiano; em cada acto difícil, em cada momento árduo, deposita o beijo da simplicidade. As horas mais difíceis da nossa vida são as que melhor nos moldam; são as dificuldades que talham a verdadeira personalidade de cada um de nós. Por isso, não ganhes o costume de te queixar das coisas que te acontecem dia a dia. Habitua-te a ir subindo a encosta do cumprimento do dever, subindo as íngremes ladeiras e, ao mesmo tempo, entoando um cântico à tua cruz.
(MILAGRO, Alfonso - Os cinco minutos de Deus. Cucujães: Editorial Missões, 2005)
Dia 17 de Outubro é o Dia Mundial para a erradicação da pobreza e, neste sentido, foi criada uma iniciativa global, denominada "Levanta-te e Actua", que apela a que entre os dias 17 e 19 de Outubro as pessoas se levantem, exigindo que os seus governos cumpram com as promessas de acabar com a pobreza extrema e que se alcancem os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) até 2015. Portugal também está associado a esta iniciativa.
O "Levanta-te e Actua" é coordenado, em Portugal, pela Pobreza Zero, Objectivo 2015, Desafio Miqueias e Oikos – cooperação e desenvolvimento, às quais se juntaram dezenas de organizações e associações de todo o país como co-organizadoras.Em 2007, a iniciativa “Levanta-te e Actua” congregou mais de 43 milhões de pessoas em todo o mundo e Portugal contribuiu com mais de 65 mil vozes nesta iniciativa, sendo o país europeu que obteve um maior número de participantes.
Tendo por base os relatórios que têm vindo a ser elaborados por diversas instituições ligadas à ONU (UNESCO, UNICEF, FAO, ...), no nosso mundo verifica-se que:
980 milhões de pessoas vivem com menos de 75 cêntimos por dia e quase metade da população mundial (2,8 mil milhões) vive com menos de 1,5 € por dia.
Mais de 800 milhões de pessoas vão para a cama com fome todos os dias... 300 milhões delas são crianças.
A cada ano, seis milhões de crianças morrem de subnutrição antes de completarem cinco anos de idade.
Mais de 50% dos africanos sofre de doenças relacionadas com a água, como a cólera e a diarreia infantil.
A cada 30 segundos, uma criança africana morre de malária – num total de mais de um milhão de mortes infantis por ano.
A cada ano, entre 300 e 500 milhões de pessoas são infectadas com malária. Cerca de três milhões de pessoas morrem como resultado.
A África Subsariana tem apenas 4% dos trabalhadores de saúde, mas 25% do peso mundial de doenças. As Américas têm 37% dos trabalhadores de saúde, mas apenas 10% do peso mundial de doenças.
Mais de 1 a cada 4 pessoas adultas não conseguem ler ou escrever. Dois terços delas são mulheres.
As mulheres trabalham dois terços das horas de trabalho no mundo, produzem metade da comida do mundo, mas recebem apenas 10% do salário mundial e possuem menos de 1% da propriedade privada mundial.
Quatro em cada dez pessoas no mundo não têm sequer acesso a uma simples latrina. Cinco milhões de pessoas, a maioria delas crianças, morrem em cada ano devido a doenças ligadas ao contacto com a água.
2,6 mil milhões de pessoas não têm acesso a condições sanitárias dignas.
Durante este mês de Outubro, entre os dias 5 a 26, está a ter lugar a XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, convocada para debater «A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja». É também esta a Intenção proposta ao Apostolado da Oração para este mês.
"Todos podem e devem prestar este serviço da Palavra de Deus: os estudiosos através da investigação cuidadosa e rigorosa, para ajudarem todo o povo de Deus a progredir no conhecimento da sua Palavra; os pastores da Igreja, anunciando a Palavra com vigor, explicando-a aos fiéis e convidando-os a caminhar na fidelidade aos seus ensinamentos; os catequistas, animando na descoberta das infindáveis riquezas da Palavra e testemunhando o seu poder para a transformação da vida pessoal e colectiva; e todos, em comunidade ou individualmente, dando testemunho diante do mundo de amor à Palavra de Deus, de alegria na sua escuta e, sobretudo, de adesão à mesma – que é adesão a Jesus Cristo – deixando-se converter e conduzir por ela.
A adesão à Palavra de Deus não é uma iniciativa individual. A iniciativa é sempre de Deus – e o lugar da sua realização plena é a Igreja. Não há, por isso, conversão à Palavra que não seja também conversão à Igreja, à comunidade crente por meio da qual a Palavra chega até cada um de nós. E também por isso, não há verdadeira escuta da Palavra que não tenha uma dimensão de Igreja – mesmo quando a Palavra é lida e meditada na intimidade e na solidão. A Palavra recebe-se, não se inventa; é-nos dada, não é conquista nossa; é poder transformador de Deus, revestindo a fraqueza da nossa carne. A Palavra guia aquele que se deixa converter por ela para a verdade total, a verdade de Deus em Jesus Cristo." (Elias Couto, Agência Ecclesia)
Na tradição grega, Cairos ("Kairos") era apresentado como o momento certo e representado com asas nos pés ou nos ombros. Na testa tinha um tufo de cabelos. Quanto à nuca aparecia careca, pretendendo os gregos simbolizar que se devem agarrar as oportunidades. A nuca lisa demonstrava que o momento é efémero. Quando o momento passa por nós a correr, não o podemos apanhar. Mas, afinal o que é o momento certo ou tempo favorável e agradável?
Na Segunda Carta aos Coríntios, Paulo cita o profeta Isaías: «No tempo favorável ouvi-te e, no dia da salvação, vim em teu auxílio» (2Cor 6,2; Is 49,8). E de seguida conclui: «É este o tempo favorável, é este o dia da salvação» (2 Cor 6,2). Em grego diz-se: «É este o tempo tão aguardado (Kairos euprosdektos)». O «dektos» é aquilo que se pode aceitar, em que se encontra prazer, aquilo que é agradável. Para Paulo, o tempo agradável é aquele que está cunhado com o prazer divino e com a presença de Deus. É o tempo desejado, que se caracteriza por estar repleto de misericórdia, amor, plenitude. Para Paulo, este tempo está marcado pela proximidade de Jesus.
Jesus Cristo está ao nosso lado. Através d'Ele, o tempo atinge a sua plenitude. Toda a ânsia que temos de um tempo de felicidade, de um tempo em que as pessoas são curadas e atingem o seu verdadeiro ser, é preenchida em Jesus Cristo. Daí que vivamos agora num tempo de misericórdia e de estima divina. Cabe-nos a nós acolhermos a estima de Deus e sermos actuais, para O podermos encontrar.
(GRÜN, Anselm - Ao ritmo do tempo dos monges. Prior Velho: Paulinas, 2006)