Hoje inicia-se um novo ano litúrgico. É o ciclo B ou ano B e o evangelista é S. Marcos. Começa também o Advento. Neste tempo celebramos a obra salvadora de Cristo, numa tríplice vertente:
no passado - a vinda de Jesus Cristo, o Messias, o Filho de Deus, nascido em Belém, no tempo do imperador César Augusto;
no presente - a presença misteriosa, viva e actuante de Cristo na sua Igreja, especialmente nos Sacramentos, na Palavra, na Eucaristia, na Assembleia Cristã, no testemunho dos baptizados;
a vinda gloriosa de Cristo no fim dos tempos (a Parusia), em que conheceremos plenamente o seu amor, o esplendor do nosso destino.
Nesta primeira semana a palavra-chave é VIGIAI, que surge por três vezes no Evangelho deste domingo. Estar vigilante, uma atitude própria do Advento, de lâmpadas acesas, com toda a nossa capacidade humana e cristã para quando o Senhor vier e bater à porta logo Lhe abrirmos a nossa casa, na alegria do encontro. (Folha Pão e Vida, nº 483)
Estar vigilante é estar activo, atentos à conversão e à misericórdia que acontecem no encontro com Cristo.
(Imagem disponível em http://www1.ci.uc.pt/artes/6spp/imagens/graovasco_natividade-1.jpg)
A exortação de S. Paulo, que nos recomenda e nos incentiva a viver na alegria, a orar sem cessar e a dar graças em todas as circunstâncias, é fundamental para nos ajudar a viver o Natal. Diz-nos como devemos esperar o Senhor.
O cristão não pode viver como se o Deus da alegria não tivesse vindo para o meio de nós. "Anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: nasceu-vos um Salvador". É a notícia mais sensacional da história da humanidade.
A nossa alegria vem do facto de sabermos de onde vimos e para onde caminhamos. Não nos faltarão dificuldades, incompreensões e perseguições, mas nos nossos olhos deve brilhar sempre a certeza de que Deus caminha connosco, nunca nos esquece e é fonte de alegria e serenidade. Nossa Senhora ensina-nos a louvar o Senhor com toda a alegria do coração: " a minha alma exulta de alegria, porque o Senhor fez em mim grandes coisas".
A nossa missão é dar confiança, esperança e alegria ao mundo. Até Gandhi o admitiu: "O amor não precisa de ser narrado; deve ser vivido na alegria e então espalha-se por si mesmo". Para Deus conta o que fizermos pelos outros. O nosso sorriso, as nossas energias, a nossa coragem, o nosso entusiasmo serão as sementes do reino de Deus que podemos espalhar, para que nasça mais esperança e confiança no mundo. O Natal terá então mais sentido.
Um dia, o filósofo grego Diógenes encontrava-se parado na esquina de uma rua rindo-se muito. "De que te ris?" - questionou-o alguém que passava. "De quão estúpido é o comportamento humano" - respondeu. "Vês essa pedra no meio da rua? Desde que aqui cheguei, esta manhã, 10 pessoas tropeçaram nela e amaldiçoaram-na, mas nenhuma delas se deu ao trabalho de a tirar, para que mais ninguém embicasse nela" (in Revista Audácia).
Quanto a nós: hoje já tiramos alguma pedra do caminho? Fomos solidários com alguém? Já tivemos algum pensamento para o outro?
Não estamos sozinhos na sociedade. É preciso sairmos do egoísmo e começarmos a "pensar no plural".
Abrindo a Bíblia nas suas primeiras páginas, encontramos esta afirmação sobre a origem do homem: "Deus insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida". É isto o Homem. Nada mais do que isto, nada menos do que isto: um sopro de Deus, alguma coisa que vem de Deus.
O Homem tem em si um pouco do calor de Deus, calor esse que é fecundo e que dá vida. Mas, se o homem é calor de Deus, porque não se converte em chama que abrase todos os que estão à sua volta? Porque é que vai espalhando o frio nas suas relações, frio de ressentimentos, frio de hostilidades, frio de egoísmo? O homem não foi chamado a ser um bloco de gelo, mas fogo. Onde há gelos, há frio. Onde há frio, não há vida. Mas, onde há fogo, há calor e onde há calor surge a vida.
(MILAGRO, Alfonso - Os cinco minutos de Deus. Cucujães: Editorial Missões, 2005; Imagem disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e9/Ogien.jpg)
A parábola continua actual. Se a aplicarmos às dimensões da sociedade globalizada, vemos como os povos de África, que se encontram explorados e saqueados, têm a ver de perto connosco. Vemos então como eles são o nosso «próximo»; vemos que também o nosso estilo de vida, a história de que fazemos parte, os saqueou e continua a fazê-lo. Em vez de dar-lhes Deus - o Deus que está próximo de nós em Cristo - e assim acolher das suas tradições tudo o que é precioso e grande para o levar à perfeição, levamos-lhe o cinismo de um mundo sem Deus, onde conta apenas o poder e o lucro.
Devemos - é verdade - dar ajudas materiais e examinar o nosso género de vida. Mas daremos sempre demasiado pouco, se dermos apenas matéria. E, à nossa volta, não encontramos também o homem roubado e maltratado? As vítimas da droga, do tráfico de pessoas, do turismo sexual, pessoas destruídas no seu íntimo, que estão vazias mesmo no meio da abundância de bens materiais. Tudo isto nos diz respeito e nos chama a olhar para quem está próximo e amar o outro.
Devemos, a partir do nosso íntimo, aprender de novo o risco da bondade; só seremos capazes disso, se nós mesmos nos tornarmos interiormente «bons» e se tivermos também o olhar capaz de discernir o tipo de serviço que, no meu ambiente e na área mais alargada da minha vida, me é exigido, me é possível e consequentemente também me é confiado como tarefa.
(Ratzinger, Joseph - Jesus de Nazaré. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2007; Imagem disponível em http://www.vatican.va/img_new_phome/phome_new_po_02.jpg)
Um dos problemas da Igreja actual é a diminuição de participantes na Eucaristia dominical, bem como a sua fraca incidência na vida dos que nela participam. Será que verdadeiramente percebemos todo o significado deste sacramento?Em 1Cor 10,14-22, Paulo centra-se no lugar da Eucaristia na vida dos cristãos.
A refeição judaica começava pela fracção do pão. O chefe de família pegava nele, agradecia a Deus por ele e os comensais respondiam com Amen. Depois, partia-o e distribuía um pedaço por cada um. No final da refeição, sendo festiva, fazia o mesmo com o cálice: enchia-o e agradecia a Deus também pelo vinho. Na refeição pascal, este cálice era chamado cálice de benção. Benção (do latim benedictio), em hebraico, significa gratidão: bendizia-se a Deus, quer dizer, dizia-se bem dele, pelo bem por Ele concedido. Aliás, a eucaristia significa acção de graças, ou seja, é a resposta à graça (em grego kharis) obtida.
Foi numa destas refeições, a última antes da sua morte, que Jesus fez do pão e do vinho o seu corpo e o seu sangue. Na concepção judaica, o sangue, porque insubstituível, é identificado com a vida (Lv 17,11.14) e o corpo é a pessoa toda, enquanto se exterioriza e se relaciona. Assim, no seu corpo e sangue, foi toda a sua vida que Jesus entregou a Deus por nós, tornando-se fonte definitiva de salvação para toda a humanidade.
(OLIVEIRA, Anacleto - Um ano a caminhar com S. Paulo. Palheira: Gráfica de Coimbra, 2008)
Passam hoje 10 anos sobre a primeira publicação da folha Pão e Vida. Para além do registo das actividades paroquiais, podemos encontrar as leituras dominicais, bem como a indicação das leituras bíblicas para a semana corrente e uma reflexão sobre um tema em destaque (esta semana intitula-se "Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo").
Um grande bem-haja a todos os que contribuem para a sua publicação.
A 11 de Dezembro de 1925, numa época em que as monarquias iam sendo abolidas ou perdiam a sua importância e os sistemas totalitários ganhavam terreno, o Papa Pio XI instituiu a festa de Cristo Rei. A Igreja afirma a fé em que Jesus Cristo é um rei totalmente diferente, de um "Reino eterno e universal, reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz".
Como é exercido o seu reinado? Na cena do Juízo Final vemos que o critério do julgamento será, para todos, o amor. É um rei solidário com todos os necessitados, um advogado supremo da justiça, misericórdia, da responsabilidade dos homens uns pelos outros. Será o bem a triunfar, no fim. Nenhum bem praticado será ignorado ou esquecido.
Servir o nosso Rei faz-se na dedicação ao próximo que precisa de nós. Professar fé em Jesus Cristo implica comprometer-se pelos outros. Sempre que nos comprometemos com a verdade, justiça, solidariedade e amor - seguindo o seu chamamento e tomando-O por modelo - declaramo-nos por Ele que, por sua vez, se declará por nós junto do Pai que está nos Céus.
(Revista Mensageiro do Coração de Jesus, Novembro/2008; Imagem disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/16/Cristo_Rei_e_a_Cruz_Alta.JPG/450px-Cristo_Rei_e_a_Cruz_Alta.JPG)
Propriamente, o que é uma parábola? Que pretende aquele que a conta? Cada educador, cada mestre que deseja transmitir novos conhecimentos aos seus ouvintes serve-se sempre também do exemplo, da parábola. Por este meio, ele aproxima do pensamento dos seus interlocutores uma realidade que até àquele momento estava fora do seu ângulo de visão. Ele quer mostrar como, numa realidade que faz parte do seu campo de experiência, transparece algo de que antes não se tinham apercebido.
Através da parábola, aproxima deles o que estava distante, de tal modo que, por meio desta ponte da parábola, chegam àquilo que até agora lhes era desconhecido. Trata-se de um duplo movimento: por um lado, a parábola traz a realidade distante para junto daqueles que a ouvem e meditam; por outro, o próprio ouvinte se põe a caminho. Mas isto significa que a parábola exige a colaboração de quem aprende: este não se pode limitar a receber uma lição, mas deve ele mesmo aderir ao movimento da parábola, pôr-se a caminho com ela.
Jesus quer indicar-nos o autêntico fundamento de todas as coisas e, deste modo, a verdadeira direcção que devemos tomar na vida de todos os dias para seguirmos o caminho recto. Transmite-nos um saber empenhativo, que não se limita a fornecer-nos apenas, nem sobretudo, novos conhecimentos, mas muda a nossa vida. É um saber que nos presenteia com um dom: Deus está a caminho para vir ter contigo; mas é também um conhecimento que nos exige algo: crê e deixa -te guiar pela fé.
( Ratzinger, Joseph - Jesus de Nazaré. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2007; Imagem disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/96/Bloch-SermonOnTheMount.jpg)