Um sonho estranho
"A vivência do Natal e das festas natalícias, quer queiramos quer não, marca-nos muito profundamente. Tanto se fala do Natal, do Menino, dos Pastores, dos Anjos, dos Magos, que algo fica cá dentro de nós, a falar baixinho, a cantar baixinho. E, talvez por isso, tive um sonho um pouco estranho. Dei comigo a conversar com Maria e José, um pouco afastados da manjedoura para não perturbar o Menino.
Tudo se passava em cenário de Natal, de curral de animais, de noite santa. Maria, a Mãe do Menino, parecia ter um ar triste e eu, com algum atrevimento, perguntei-Lhe: "Porque estás assim, Senhora, com esse ar triste, se faz anos que nasceu o Menino(...)?". Ela, com ar de bondade, olhou-me e ficou em silêncio. Mas José tocou-me no ombro, chamou-me um pouco ao lado e, com voz baixa, disse-me: "Maria está triste, pois passou o dia de Natal, do aniversário do Menino, e muito poucos Lhe ofereceram uma prenda. Andaram por esse mundo fora a comprar prendas, a dar e a receber prendas, a visitar-se uns aos outros, a trocar presentes e cartões de Boas Festas, mas esqueceram-se do Menino que fazia anos". Fiquei calado, quase envergonhado. (...)
Estava tão embaraçado com a situação que nem sabia que mais dizer ou perguntar. Mas José, dando conta do meu embaraço, disse-me: "Alguns tiveram a delicadeza de oferecer ao Menino, um tempo forte de oração. Outros deram-Lhe como prenda a celebração do sacramento da penitência e puderam comungar na Missa do Galo. Outros, fizeram um esforço e partilharam com os pobres, neste Natal, algumas coisas que lhes sobravam outros ainda, comprometeram-se em ajudar famílias em situação difícil. Houve um que nesta quadra de Natal rezou e discerniu que ia entregar toda a sua vida a Jesus, para ser só d'Ele e trabalhar para o seu Reino. Mas a maioria não pensou no Menino, o aniversariante, e não Lhe deu prenda nenhuma". Sem saber muito bem o que fazer e o que oferecer, voltei-me para a Senhora, que entretanto se aproximara, e perguntei-Lhe: "Que prenda gostaria o vosso Filho que eu Lhe desse?". Ela, com suavidade e bondade, olhou-me nos olhos e respondeu-me: "Dá-lhe o teu coração, pois é o que Ele mais aprecia. O teu amor, a tua amizade mais verdadeira e sincera, mais radical e generosa". Beijei a mão do Menino, fiz uma vénia e saí."
(PEDROSO, Dário - Nuvem de Poeira. Um desafio profético. Braga: Editorial A.O., 2006)