Não basta ser livre. Há que saber sê-lo. A liberdade do cristão tem origem na sua comunhão com Deus, impossível de alcançar pela Lei. É na caridade de Cristo que assenta a minha liberdade.
Em Gl 5, 13-24, Paulo avisa para o perigo da liberdade cristã se tornar uma ocasião para os apetites carnais, talvez porque isso estivesse a acontecer entre os cristãos da Galácia. Mesmo convertidos a Cristo, continuavam a viver na carne, isto é, sujeitos à debilidade e fraqueza humana. Ora, que melhor meio poderiam eles ter para não ceder às tentações da carne, senão um código de regras claras e exigentes, pelas quais se orientassem? Só que, para não serem escravos da carne, tornavam-se escravos da Lei, do legalismo.
Só quando nos mantemos na caridade é que temos uma conduta moral livre de toda a opressão. Para nos mantermos na caridade e termos uma conduta moral livre de toda a opressão, há que tomar consciência do género de obras que pode realizar quem vive sob o domínio da carne. Paulo classifica essas obras como um só fruto, para indicar a sua unidade perfeita, quer dizer, a unidade que elas produzem naqueles que as praticam. Entre eles e deles com Deus. A caridade, alegria, paz, paciência, benignidade e bondade são virtudes que vêm de Deus, determinantes para as nossas relações mútuas, cuja persistência, por sua vez, depende da nossa fidelidade, mansidão e autodomínio.
(OLIVEIRA, Anacleto - Um ano a caminhar com S. Paulo. Palheira: Gráfica de Coimbra, 2008)
Muitos cristãos afirmam que não rezam, que deixaram a oração porque não sentiam gosto, não lhes dizia nada. Rezar e sentir não são a mesma coisa. Para rezar bem não é necessário sentir gosto, ter consolação. É absolutamente imperioso que esta verdade nos penetre na alma e no coração. A oração é uma atitude, um acto de fé e de sentimento.
S. Teresa de Ávila afirma que o perigo de muitas almas e o grande obstáculo do seu progresso espiritual é andarem à procura das consolações de Deus e não do Deus das consolações. A oração é, deve ser, um desejo, uma busca de encontro com Deus na fé, mesmo sem consolação, sem gosto interior. Buscar o Senhor, dialogar com Ele, mesmo que não sinta a Sua presença, mesmo que Ele se "esconda", mesmo que haja secura, aridez, desolação - isso é que é orar.
(PEDROSO, Dário - Senhor, ensina-nos a rezar. Braga: Editorial A.O.,1987)
Ninguém é totalmente perfeito. Todos temos os nossos limites, que não serão fruto de uma má vontade, mas fruto da natureza humana, débil e imperfeita. Até o sábio mais sábio reconhece que há coisas que ignora. Mais ainda: quanto mais sábio é, mais reconhece e lamenta o mundo ilimitado que os seus conhecimentos não abarcam, até mesmo na sua própria especialidade. Também o santo mais santo reconhece os seus defeitos e imperfeições. Quanto mais santo é, mais humilhado se sente, pois vê e lamenta que lhe falte ainda muito para alcançar a perfeição.
Não devemos recear reconhecer em nós próprios as limitações, imperfeições e defeitos. Reconhecê-los e senti-los profundamente. Se pensassemos que não tínhamos defeitos, seria esse um argumento imbatível para provar que estavamos muito longe da sabedoria e da santidade. Ao reconhecê-los, estamos a demonstrar, sem palavras mas com factos, que temos ambas as coisas: a ciência verdadeira e a santidade.
(MILAGRO, Alfonso - Os cinco minutos de Deus. Cucujães: Editorial Missões, 2005)
Jesus disse: "Eu sou a Vida". A vida não é algo que Ele nos dá, é a realidade que Ele é. Jesus é a Vida, a fonte da fonte, a vida verdadeira. Quem não vive n'Ele, com Ele, unido a Ele, vegeta. Come, bebe, trabalha, passeia, lê, estuda, diverte-se, mas não tem a Vida que é Jesus Cristo, o Verbo do Pai enviado ao mundo. Fora de Jesus não vivemos, não somos,no pleno sentido da palavra. Fora da Vida não vivemos, não nos enchemos de Cristo Ressuscitado, não temos a alegria e a felicidade, a paz e o amor, a unidade e a concórdia. Sem Jesus, somos seres sem a graça, a santidade, a vida de Deus.
A nossa vocação e missão de cristãos é tentar que todos os homens e mulheres possuam Jesus, tenham em si, no seu coração e nas suas vidas, Jesus, que é a Vida. Será através de nós, do nosso testemunho, do nosso comportamento, do nosso exemplo, da santidade de Deus em nós, que a Vida de Jesus irá chegando aos outros. Somos instrumentos, somos canais pelos quais Jesus pode chegar a todos, ser a Vida de todos. Daí a necessidade do apostolado, do testemunho, da comunicação, da vida que se dá e se transmite, do amor que é o melhor testemunho de Jesus.
Pensa em ti e pensa nos outros; tu tens a tua personalidade, as tuas necessidades e conveniências, mas os outros também têm as deles. Mesmo quando pensas em ti, pensa sempre no plural, pois não estás sozinho na sociedade, estás entre aqueles que te rodeiam.
Pensar no singular é, na maior parte das vezes, uma velada expressão de egoísmo, o que não deixa de ser censurável. Pensar no plural, mesmo nos teus assuntos pessoais, dá a estes uma projecção de comunidade, ajuda-te a não te fechares em ti mesmo e nas tuas coisas pessoais, projecta-te para o mundo, para a humanidade. Pensar no plural aumenta a possibilidade de acção da tua parte e eleva o teu ideal de vida, pois se as forças unidas são invencíveis, os ideais unidos são mais puros e irresistíveis.
Pensa, portanto, no plural, que tens de salvar-te a ti, mas que deves salvar-te "em cacho", com os outros.
(MILAGRO, Alfonso - Os cinco minutos de Deus. Cucujães: Editorial Missões, 2005)
Faz hoje cinco anos, que Karol Wojtyla morreu, no dia 2 de Abril de 2005, às 21h e37mn, um mês e meio antes de completar 85 anos. O seu Papado pode ser dividido em quatro fases, marcadas por quatro lemas de particular eficácia, com os quais soube comunicar a sua mensagem às multidões.
A 22 de Outubro, durante a celebração de abertura do serviço pontifical, lança o primeiro lema: «Abri, ou antes, escancarai as portas a Cristo». Esta é a fase nascente do seu Pontificado, com a sua feliz projecção missionária em todos os continentes, com o uso criativo dos meios de comunicação social até ao drama do atentado e ao longo desafio lançado contra o sistema comunista e o império soviético.
O segundo lema está inscrito na Encíclica Dominum et vivificantem (Maio de 1986):«Alargai os horizontes, fazei-vos ao largo». João Paulo II refere-se aos judeus como «nossos irmãos mais velhos», vai ao encontro de multidões islãmicas e convoca assembleias inter-religiosas.
O terceiro lema é marcado pelo sofrimento físico e assinala a aproximação do Jubileu do ano 2000: «Em nome da Igreja, peço perdão». Estas palavras foram ditas pela primeira vez na Républica Checa ( Maio de 1995) e foram retomadas na Quaresma do ano 2000, pedindo perdão pelos «erros, as infidelidades, as incoerências e os adiamentos» dos quais foram responsáveis os «filhos da Igreja», no milénio que estava a chegar ao fim.
O quarto lema chega com a dor extrema da falta de movimentos e de palavra, para um homem que tanto se deslocara e tanto falara: «Ofereço os meus sofrimentos para que o desígnio de Deus se realize e a sua Palavra caminhe no meio dos povos». São estes os termos da sua mensagem para a Via Sacra no Coliseu (25 de Março de 2005), que segue em ligação vídeo na sua capela privada.
Na noite de 2 Abril de 2005, morre um dos gigantes do nosso tempo de quem Gorbachev disse um dia: «Sem este Papa, não é possível compreender o que aconteceu na Europa em finais dos anos oitenta». Morre um dos pilares da Paz no mundo, ele que na Primavera de 2003 disse: « Enquanto tiver voz, gritarei: paz!».
Accattoli,Luigi - João Paulo II - a primeira biografia completa. Prior Velho: Paulinas Editora,Abril 2007.