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Blogue da Paróquia do Santíssimo Sacramento

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Francolino Gonçalves e sua paixão pelo Antigo Testamento

13.06.09 | ssacramento

Numa entrevista recente posta on-line na Agência Ecclesia, Francolino Gonçalves, dominicano, membro da Comissão Bíblica Pontíficia, fala-nos da sua paixão pelo Antigo Testamento (A.T.) pois, como ele diz, passou os últimos  quarenta anos a estudar os profetas. É professor na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém, sendo considerado um dos peritos mundiais no que diz respeito ao profeta Isaías.

 

Segundo este dominicano o A.T. "está longe de ser uma unidade do ponto de vista religioso", isto  é, "não há só uma religião no A.T.". Nesta investigação este estudioso admite que o "A.T. é o compromisso entre dois sistemas religiosos", os quais passamos a referir:

  1. " Um dos sistemas - o mais fundamental - é que toda a religião se funda na Criação, mais precisamente, no mito da criação. Esta religião tem a sua imagem de Deus que aparece, essencialmente, como Rei. O texto mais claro e que melhor ilustra esta concepção de Deus é a visão inaugural de Isaías (Capítulo 6). Este profeta vê uma sala real onde está o rei sentado no trono - com umas vestes que se estendem por toda a sala - e rodeado pelos seus cortesãos. Deus é o rei que conquistou a realeza. Como é que ele se tornou rei? Há diferentes versões, mas a mais corrente é que se tornou rei pela vitória contra o caos. O combate cósmico primitivo. Este é um esquema comum ao mundo semita. Alguns conceitos fundamentais do Novo Testamento partem daqui, como por exemplo, o conceito de Reino Deus, o conceito de Messianismo e o conceito de justiça e justificação lidos em S.Paulo. Não podemos esquecer que justiça é sinónimo de ordem. Para S. Paulo é a harmonia da criação na sua relação com o Deus criador. Todos têm acesso ao conhecimento de Deus através da criação.
  2. "O outro funda-se na história das relações entre Deus e o seu povo, entre Israel e Yahve. A primeira grande testemunha deste sistema religioso é Oseias. Qual é a imagem que Oseias dá de Deus? As metáforas que emprega têm origem familiar. Yahve é pai e o povo é o filho. Yahve é esposo, o povo é a esposa. Estas metáforas sublinham a autoridade de Deus e o culto exclusivo a Ele. Um pai pode ter muitos filhos, mas os filhos só têm um pai. Na sociedade de então, um homem podia ter muitas esposas, mas elas só podiam ter um marido. A metáfora mais frequente é a do marido. Mais tarde, usou-se sobretudo a metáfora da aliança, oriunda do mundo das relações entre dois reis de poder desigual, o suserano e o vassalo. Neste sistema religioso, Deus revela-se na história e a um grupo. Este sistema foi mais dinâmico e conquistador. Acabou por ir absorvendo o outro sistema".