... E MEDITAR
26 de Março
Sexta-feira da Semana V
Jo 10, 31-42
Celebrámos ontem a solenidade da Anunciação do Senhor, recordando o mistério da encarnação do Verbo divino, ou seja, de Deus que se fez homem. Hoje, o evangelho relata as ameaças contra Jesus, de ser morto por apedrejamento, pela blasfémia de, sendo homem, se fazer Deus. Esta questão é um dos lugares centrais da fé cristã: seria Jesus um homem que pretendia ser Deus, como o acusam, ou seria mesmo Deus que se fez homem, como acreditamos?
Olhando a história, é mais frequente lembrarmos homens que se pretendiam deuses. Mesmo nos nossos dias, quantos se comportam como se fossem deuses, ainda que não se atrevam a dizê-lo. Muitos destes deixaram o nome inscrito na história e todos pelas piores razões. Em contrapartida, aqueles que gravaram os seus nomes na história por boas obras nunca pretenderam ser deuses, nem se comportaram como tal, bem pelo contrário. Os que marcam a humanidade pelo bem sempre procuram ser homens e mulheres de verdade.
E Jesus? É indiscutível que Jesus deixou nome na história pelas melhores razões, logo, deve estar no grupo dos que não quiseram senão ser homens de verdade. É por isso que nos salva: porque, sendo Deus, quis ser homem, para nos mostrar que isso nos basta. Nunca Jesus reclamou a condição divina, que é sua, para se sobrepor aos homens, em benefício próprio. Nunca foi um homem a armar aos deuses. Em tudo foi plenamente humano, sendo plenamente divino, levando ao encontro entre humanidade e divindade. Em tudo nos mostrou que não necessitamos senão de ser homens e mulheres de verdade.
Eu sei que estou a repetir algo da meditação de ontem, mas creio que nos devemos demorar neste mistério da encarnação, mais ainda quando, como hoje, ser humano é tão exigente.
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Naquele tempo, os judeus agarraram em pedras para apedrejarem Jesus, Então Jesus disse-lhes: «Apresentei-vos muitas boas obras, da parte de meu Pai. Por qual dessas obras Me quereis apedrejar?» Responderam os judeus: «Não é por qualquer boa obra que Te queremos apedrejar: é por blasfémia, porque Tu, sendo homem, Te fazes Deus». Disse-lhes Jesus: «Não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: vós sois deuses’? Se a Lei chama ‘deuses’ a quem a palavra de Deus se dirigia – e a Escritura não pode abolir-se –, de Mim, que o Pai consagrou e enviou ao mundo, vós dizeis: ‘Estás a blasfemar’, por Eu ter dito: ‘Sou Filho de Deus’!» Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis. Mas se as faço, embora não acrediteis em Mim, acreditai nas minhas obras, para reconhecerdes e saberdes que o Pai está em Mim e Eu estou no Pai». De novo procuraram prendê-l’O, mas Ele escapou-Se das suas mãos. Jesus retirou-Se novamente para além do Jordão, para o local onde anteriormente João tinha estado a baptizar e lá permaneceu. Muitos foram ter com Ele e diziam: «É certo que João não fez nenhum milagre, mas tudo o que disse deste homem era verdade». E muitos ali acreditaram em Jesus.